FIO DE CORTIÇA, MÉTODO DE OBTENÇÃO E SEUS USOS

Domínio técnico

[0001] A presente divulgação refere-se a um fio de cortiça, em particular um fio com cortiça incorporada, estruturas têxteis que compreendem o referido fio, método de obtenção e seus usos.

[0002] O fio de cortiça descrito na presente divulgação é útil para a indústria têxtil e de confeção, podendo ser aplicada extensivamente na indústria têxtil nomeadamente no fabrico de tecidos para vestuário e têxteis-lar, em particular em vestuário técnico, edredons, mantas, capas, etc.

Estado da arte

[0003] A atual oferta de mercado está desprovida de substratos têxteis com incorporação de elevada quantidade de cortiça ligada quimicamente. Existe no mercado uma vasta gama de produtos denominados tecidos de cortiça e fios de cortiça, utilizados em produtos têxteis e marroquinaria, mas que na realidade se constata tratar-se de folhas finas de cortiça natural ou aglomerada (usualmente com uma espessura na ordem dos milímetros) laminadas com tecidos e não tecidos e ainda fitas provenientes do corte dessas folhas laminadas com espessuras da ordem dos 3 a 10 mm, como o fio descrito no documento EP1358370A1.

[0004] Existem alguns produtos no mercado, nomeadamente:

• Suberis ^® que consiste numa estrutura/folha de cortiça laminada com tecido ou não tecido, suave, lavável, impermeável e à prova de fogo; sendo utilizada para diversas aplicações, nomeadamente vestuário, marroquinaria, área automóvel e mobiliário e decoração; • Suberis ^® Fio - fita produzida a partir de uma folha de cortiça com largura de 3 a 10 mm. Esta fita para poder ser utilizada tem de levar uma costura longitudinal produzida com um fio sintético ou ser torcida com outra levando no seu interior (alma) uma fio sintético para lhe dar suporte;

• Corkshell - estrutura têxtil com três camadas em que a cortiça (em escala de macro granulado) se encontra depositada na camada intermédia do tecido, tendo um tecido exterior e um tecido interior. Refira-se que após análise de uma amostra desta estrutura o consórcio verificou não existir qualquer ligação química entre os grânulos de cortiça e os diferentes elementos têxteis;

• Pelcor - empresa apresenta coleção de acessórios, em pele de cortiça, para situações distintas, incluindo malas, carteiras, cintos, guarda-chuvas e estojos diversos;

• Artelusa - empresa apresenta desde produtos para escritório a malas e carteiras, cintos bijuteria diversa. Não tem vestuário;

• Nike Sportswear - desenvolveu sapatilha para basquetebol utilizando cortiça genuína para cobrir todo o seu exterior;

• Dyn Cork (marca da empresa SEDACOR) possui tecidos de cortiça, baseados numa folha de cortiça natural laminada. Possui ainda um fio de cortiça obtido através de uma fita de cortiça costurada longitudinalmente com uma alma de fio sintético.

[0005] Verifica-se que as principais aplicações destes produtos são mobiliário, estofos de automóvel, malas, carteiras, cintos, chapéus e pequenas bijuterias.

[0006] Estes produtos ilustram o problema técnico a resolver pela presente solução.

Descrição geral

[0007] A análise do estado da arte permite verificar que a atual oferta de mercado no que se refere a produtos têxteis e marroquinaria com base na cortiça foca-se principalmente em folhas finas de cortiça natural ou aglomerada usualmente, com uma espessura na ordem dos milímetros, laminadas com tecidos e não tecidos e ainda fitas ou fios provenientes do corte dessas folhas laminadas que posteriormente foram dobradas e costuradas e têm espessuras da ordem dos 3 a 10 mm .

[0008] Os produtos do estado da arte podem ser aplicados em produtos de mobiliário, estofos de automóvel, malas, carteiras, cintos, chapéus e pequenas bijuterias. No entanto, não é conhecida a utilização dos produtos na indústria têxtil nomeadamente vestuário e têxteis-lar, uma vez que existem vários problemas associados. Os referidos problemas estão associados à falta de flexibilidade e maleabilidade das folhas de cortiça para a utilização em vestuário, o que resulta em dificuldade em as dobrar, ficando estas quebradiças; dificuldades na costura destes materiais; ausência de respirabilidade do material o que o torna completamente desadequado para a utilização em vestuário; toque pouco macio, assim como problemas ao nível da conservação e limpeza dos mesmos, o que limita a sua utilização nos produtos finais da fileira têxtil (vestuário e têxteis lar). Relativamente aos fios de cortiça existentes no mercado verifica-se que são fitas provenientes do corte de folhas de cortiça laminadas, dobradas e costuradas o que as torna extremamente grossas, com pouca maleabilidade e flexibilidade, que as torna impossíveis de processar pelas técnicas convencionais de produção de tecidos e malhas. Desta forma, a utilização dos produtos têxteis atuais está impossibilitada, quer em vestuário quer em têxteis-lar, uma vez que a sua performance versus aplicabilidade não é satisfatória.

[0009] No âmbito da presente divulgação entende-se por estrutura têxtil um tecido, não tecido ou malha obtido a partir de fios ou fibras naturais ou sintéticas. No âmbito da presente divulgação entende-se por tecido qualquer material à base de fios de fibra natural ou sintética utilizado na fabricação de roupas, cobertura de mesa, panos para limpeza, uso medicinal como faixas e curativos, entre outros. Desta forma, a presente divulgação resolve os seguintes problemas:

• inexistência de substratos têxteis, em particular fios, tecidos, não-tecidos e malhas, com elevada incorporação de cortiça ligada quimicamente ao substrato têxtil; • falta de maleabilidade, flexibilidade e finura das fitas de cortiça para serem processadas pelas tecnologias têxteis convencionais, em particular tricotagem, tecelagem, entre outros;

• falta de flexibilidade e maleabilidade das folhas de cortiça para a utilização em vestuário, o que resulta em dificuldade em as dobrar, ficando estas quebradiças;

• dificuldades na costura das folhas de cortiça;

• respirabilidade das folhas de cortiça insuficiente o que as torna completamente desadequado para a utilização em vestuário;

• toque pouco macio das folhas de cortiça;

• problemas ao nível da conservação e limpeza das folhas de cortiça, o que limita a sua utilização nos produtos finais da fileira têxtil, em particular vestuário e têxteis-lar.

[0010] A presente divulgação introduz um conceito inovador no que se refere a materiais têxteis com cortiça, em particular fios, tecidos, não-tecidos e malhas, uma vez que ao contrário dos produtos existentes atualmente no mercado que são obtidos por colagem de folhas de cortiça finas com um substrato têxtil. O fio de cortiça, e os materiais têxteis com cortiça agora divulgados incorporam uma elevada quantidade de cortiça de forma reativa, isto é ligada quimicamente ao substrato têxtil tornando-os produtos únicos e diferenciadores em relação ao estado da arte.

[0011] No âmbito da presente divulgação são desenvolvidos estruturas tipo fio revestidos com micropartículas/granulados de cortiça, através de processos de revestimento por ação reativa. A presente divulgação refere-se fios têxteis, como por exemplo algodão, linho, lã, seda, poliamida, poliéster, polietileno, poliuretano e suas combinações, que podem ser de fibra natural ou fibra sintética, sendo que os referidos fios têxteis compreendem micropartículas de cortiça em que estas podem se ligam ao fio têxtil por intermédio de um ligante.

[0012] Um dos aspetos da presente divulgação refere-se a um fio de cortiça que compreende fio têxtil de fibra (natural ou não natural, por ex. sintética) e pelo menos 2% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai ) e um ligante polimérico para ligar as partículas de cortiça ao fio têxtil em que as partículas de cortiça têm uma granulometria de dimensão inferior a 1 mm. De preferência pelo menos 15% de partículas de cortiça (Pcortiça/pfio finai); mais de preferência pelo menos 20% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai); ainda mais de preferência pelo menos 25% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai) .

[0013] O peso do fio final é o fio têxtil de fibra (natural ou não natural, por ex. sintética) com a pasta, isto é peso do fio, peso das partículas de cortiça, peso do ligante e/ou aditivos, entre outros.

[0014] O fio de cortiça da presente divulgação pode ser tecido obtendo estruturas de malha ou tecido, maleáveis, respiráveis em que o tecido obtido possui características de resistência, respirabilidade, flexibilidade e leveza melhorada sendo que estas características se mantém após lavagens. Estas novas estruturas são especialmente adequadas para vestuário, edredões, mantas e outras soluções técnicas devido às propriedades térmicas/mecânicas do novo tecido.

[0015] Numa forma de realização para melhores resultados, os fios de cortiça podem compreender entre 2% - 50% de partículas de cortiça (pcortiça/pfio finai), nomeadamente microparticulas, em particular de 5 - 20% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai), 5 - 10% de partículas de cortiça (p _CO rtiça/pfio finai).

[0016] Na presente divulgação, considera-se que um fio é um conjunto de fibras entrelaçadas, que formam um cilindro de diâmetros irregulares ao longo do seu comprimento. Essa grande irregularidade revelada nos mencionados diâmetros torna- se impossível de ser medida a olho nu ou, mesmo, com o auxílio de aparelhos micrométricos. Estes fios podem ser usados para tecer, ou fabricar tecidos.

[0017] Numa forma de realização para melhores resultados, os fios de cortiça agora divulgados podem ser revestidos com um banho ou uma pasta de revestimento que pode compreender entre 5 a 50 g/l de um ligante polimérico selecionado da seguinte lista: resinas termoplásticas, resinas termoendurecíveis; e/ou resinas glioxálicas, nomeadamente: poliuretano, acrilatos, isocianatos e polióis. [0018] Numa forma de realização para melhores resultados, os fios de cortiça, podem ainda ser utilizados fixadores, espessantes, amaciadores, estabilizantes, corantes.

[0019] Numa forma de realização para melhores resultados, obteve-se a incorporação de uma quantidade de aditivos de cortiça (ou partículas de cortiça) nos substratos têxteis, em particular fios de cortiça, com uma percentagem de aditivos/partículas de cortiça > 18%, (p _C orti _Ç a/pfio finai), e uma outra percentagem de 10 a 50% (p _C orti _Ç a/pfio finai) nos tecidos e malhas.

[0020] Numa forma de realização, o fio de cortiça descrito na presente divulgação obteve um aumento da resistência à rotura e alongamento, em particular N (Newton) > 7,8% comparativamente a um tecido produzido com o mesmo fio mas sem cortiça.

[0021] Numa forma de realização, o fio de cortiça descrito na presente divulgação obteve um aumento da resistência ao pilling e ao borboto comparativamente a um tecido produzido com o mesmo fio mas sem cortiça.

[0022] Numa forma de realização, com o fio de cortiça descrito na presente divulgação obteve-se um aumento de resistência à lavagem superior a 20 ciclos, realizados em particular a 40 °C.

[0023] Numa forma de realização, com o fio de cortiça descrito na presente divulgação obteve-se um aumento da maleabilidade e flexibilidade dos substratos têxteis tecidos, não tecidos e malhas, comparativamente a uma fita ou cordão de cortiça.

[0024] Numa forma de realização, o fio de cortiça descrito na presente divulgação obteve-se um aumento da maleabilidade, flexibilidade e finura dos fios têxteis de cortiça que permitiram o seu processamento através das tecnologias convencionais para a obtenção de tecidos e malhas.

[0025] Numa forma de realização, foi possível com o fio de cortiça descrito na presente divulgação obter a costurabilidade dos tecidos e malhas.

[0026] Os produtos desenvolvidos e resultantes da utilização do fio de cortiça descrito na presente divulgação apresentam várias vantagens sobre os produtos já existentes no mercado, nomeadamente as seguintes: • no caso dos tecidos, não tecidos e malhas têm vantagem ao nível da flexibilidade, respirabilidade e da costurabilidade, possibilidade de lavar sem deformações, em particular até 40 lavagens e carácter antibacteriano;

• no caso dos fios estes têm uma finura e flexibilidade adequada ao processamento têxtil, ao contrário do verificado no estado da arte atual, permitindo assim a produção de novos substratos têxteis e produtos, inexistentes no atual mercado;

• bom desempenho dos tecidos desenvolvidos com o fio de cortiça no que se refere à estabilidade dimensional, resistência ao pilling, resistência à rotura e alongamento e finura;

• resistência à rotura e alongamento (N): aumentou 7,8% comparativamente a um tecido produzido com o mesmo fio mas sem cortiça;

• resistência ao borboto: aumentou cerca de 0,5 (numa escala de 0 a 5) comparativamente a um tecido produzido com o mesmo fio mas sem cortiça;

• o tecido com cortiça é respirável e por comparação com um tecido similar mas sem cortiça, apresenta uma resistência ao vapor de água cerca de 9% inferior (isto significa que é mais respirável);

• resistência térmica (Rct) > 0,750 (m ² .K/W) - edredão meia-estação;

• boa estabilidade dimensional à lavagem,

• finura adequada à sua utilização em artigos têxteis;

• podem ser facilmente costurados em máquinas convencionais mantendo a flexibilidade de um tecido sem cortiça.

[0027] A acrescentar que a utilização das partículas de cortiça em vez de utilizar folhas de cortiça, tal como se encontra divulgado no estado da arte, tem também um carácter de reutilização e aproveitamento de subprodutos e em consequência poderão ter um preço mais acessível, ao mesmo tempo que promove o conceito "eco-friendly" e de sustentabilidade. [0028] Numa forma de realização, a granulometria da cortiça utilizada na presente divulgação pode variar entre 0,001 e 0,85 mm, de preferência entre 0,4-0,7 mm.

[0029] A medição da granulometria/dimensão da partícula/grânulo de cortiça pode ser efetuada de diversas formas, nesta divulgação a medição granulometria/dimensão da partícula foi efetuada tendo por base a norma a análise granulométrica por peneiração mecânica, nomeadamente a descrita pela NP ISO 2030 de junho de 2011. Em particular no diz respeito às dimensões das partículas obtidas pelas peneiras especificadas no ponto 4.1.2 cujas aberturas estão em conformidade com a série ISO/R 40/3 (ver ISO 565 de 1990).

[0030] A presente divulgação permite obter com o fio de cortiça descrito um produto no qual as características do têxtil são mantidas e simultaneamente é possível aumentar a resistência à rotura e o aumento do alongamento, a estabilidade dimensional e a atividade antibacteriana do têxtil com cortiça, e ainda a resistência às variações térmicas.

[0031] A presente divulgação diz respeito a um fio de cortiça de fibra natural ou não natural, por ex. sintética, que compreende pelo menos 2% de partículas de cortiça (p cortiça/pfio finai) e um ligante polimérico adequado que liga as partículas de cortiça ao fio têxtil em que as partículas de cortiça compreendem uma granulometria inferior a 1 mm.

[0032] Um dos aspetos da presente invenção diz respeito a um fio de cortiça que compreende fio têxtil de fibra (natural ou não natural) e pelo menos 2% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai) e um ligante polimérico para ligar as partículas de cortiça ao fio têxtil em que as partículas de cortiça têm uma granulometria de dimensão inferior a 1 mm.

[0033] Numa forma de realização, o fio de cortiça agora divulgado tem um título, medido em tex inferior 197 tex (Ne 3/1), de preferência inferior a 118 tex (Ne 20/1), ainda mais de preferência entre 15x2 tex (Ne 40/2) e 40x2 tex (Ne 30/2), em particular 30x2-33x2tex (Ne 20/2 - Ne 36/2).

[0034] Numa forma de realização, o título resultante dos fios de cortiça pode ser referente a um fio singelo ou com 2 ou mais cabos torcidos. São chamados fios retorcidos àqueles que são formados por dois ou mais fios (ou cabos), os quais foram retorcidos entre si.

[0035] Habitualmente, o título de um fio têxtil é representado por um número que expressa uma relação entre um determinado comprimento e o peso correspondente. O título tex de um fio é igual ao peso em gramas de 1.000 metros de fio. É a representação recomendada pelo Sistema Internacional de Unidades (SI), já que o comprimento é a medida de 1.000 metros de material. Desta forma o material que apresentar massa de 1 grama em tal comprimento, terá como título 1 tex e assim sucessivamente. O título inglês (Ne) de um fio é igual ao número de meadas de 840 jardas (768 metros) cada uma, necessárias para se obter o peso 1 libra (= 454 gramas). No Sistema Decimal o título inglês de um fio de algodão é igual ao número de meadas de 768 metros cada uma, necessárias para se obter um peso de 454 gramas.

[0036] Numa forma de realização para melhores resultados, o fio de cortiça agora divulgado pode compreender pelo menos 5% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai), pelo menos 10% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai), de preferência pelo menos 15% de partículas de cortiça (pcortiça/pfío finai), ainda mais de preferência pelo menos 20% de partículas de cortiça (p _C orti _Ç a/pfio finai).

[0037] Numa forma de realização para melhores resultados, as referidas partículas de cortiça podem apresentar uma granulometria inferior a 0,85 mm, de preferência inferior a 0,8 mm.

[0038] Numa forma de realização para melhores resultados, as referidas partículas de cortiça podem ainda apresentar uma granulometria entre 0,001-0,5 mm, de preferência entre 0,05-0,5 mm.

[0039] Numa forma de realização para melhores resultados, o ligante polimérico adequado que liga as partículas de cortiça ao fio têxtil pode compreender poliuretano, ou acrilato, ou suas combinações, entre outros.

[0040] Numa forma de realização para melhores resultados, o referido ligante pode ser selecionado da seguinte lista: resinas termoplásticas, nomeadamente PVC, PU; resinas termoendurecíveis, em particular policloreto de vinilo, poliacetato de vinilo, poliésteres acrílicos, poliestireno, polietileno, poliamida, poliuretano; resinas glioxálicas; ceras; parafinas; silicones; e suas combinações, entre outros.

[0041] Numa forma de realização para melhores resultados, o fio agora divulgado pode compreender ainda fixadores, espessantes, amaciadores, estabilizantes, corantes, ou suas combinações.

[0042] Numa forma de realização para melhores resultados, o fio têxtil pode ser selecionado de uma lista constituída por algodão, linho, lã, seda, viscose, acetato, poliamida, poliéster, acrílica, elastano, polietileno, poliuretano e suas combinações, entre outros.

[0043] A presente divulgação também diz respeito a uma malha ou um tecido que pode compreender o fio de cortiça agora divulgado.

[0044] A divulgação diz ainda respeito a uma composição para banho ou pasta de revestimento para um revestimento do fio têxtil descrito agora divulgado. A referida composição para banho ou pasta de revestimento pode compreender 5 a 50 g/l de um ligante polimérico adequado e 5 a 100 g/l de partículas de cortiça com uma granulometria inferior a 1 mm, de preferência 10 a 40 g/l de um ligante polimérico adequado e 20 a 70 g/l de partículas de cortiça, ainda mais de preferência de 20 a 30 g/l de um ligante polimérico adequado e 40 a 60 g/l de partículas de cortiça.

[0045] Numa forma de realização, a composição agora divulgada pode compreender partículas de cortiça compreendendo uma granulometria inferior a 0,85 mm, de preferência inferior 0,8 mm.

[0046] Numa forma de realização, a composição agora divulgada pode compreender partículas de cortiça compreendendo uma granulometria com dimensões entre 0,001- 0,5 mm, de preferência entre 0,05-0,5 mm.

[0047] Numa forma de realização, o ligante pode compreender poliuretano, ou acrilato, ou suas combinações, entre outros.

[0048] Numa forma de realização, o referido ligante pode ser da seguinte lista: resinas termoplásticas, nomeadamente PVC, PU; resinas termoendurecíveis, em particular policloreto de vinilo, poliacetato de vinilo, poliésteres acrílicos, poliestireno, polietileno, poliamida, poliuretano; resinas glioxálicas; ceras; parafinas; silicones; e suas combinações.

[0049] Numa forma de realização, a composição pode compreender ainda fixadores, espessantes, amaciadores, estabilizantes, corantes, ou suas combinações, entre outros.

[0050] A presente divulgação diz ainda respeito a um tecido, uma malha e um não tecido revestido com a composição descrita anteriormente.

[0051] A divulgação em causa também está relacionada com artigos que podem compreender materiais têxteis, fios, tecido, malha e não tecidos descritos anteriormente, sendo que os artigos podem compreender artigos de decoração, roupa de cama, mantas, colchões, cortinas, vestuário e/ou artigos técnicos, entre outros.

[0052] A presente divulgação também diz respeito a um processo para depositar as partículas de cortiça numa estrutura têxtil, malha ou não tecido, e que pode compreender os seguintes passos, nomeadamente deposição de um banho ou pasta de revestimento por raclagem nas referidas estruturas têxtil, malha ou não tecido.

[0053] Numa forma de realização, o processo agora divulgado pode ainda compreender um passo de secagem e/ou fixação, de preferência um passo de termofixação.

[0054] A presente divulgação também diz respeito a um processo para depositar as partículas de cortiça ao fio têxtil e que pode compreender um passo de passagem do fio por um banho ou pasta de revestimento, por eclonagem, pulverização ou imersão, sendo que o referido processo pode compreender ainda um passo de secagem e/ou fixação, de preferência termofixação.

[0055] Ao longo da descrição e reivindicações a palavra "compreende" e variações da palavra, não têm intenções de excluir outras características técnicas, como outros componentes, ou passos. Objetos adicionais, vantagens e características da divulgação irão tornar-se evidentes para os peritos na técnica após o exame da descrição ou podem ser aprendidos pela prática da divulgação. Os seguintes exemplos e figuras são fornecidos como forma de ilustrar, e não têm a intenção de serem limitativos da presente divulgação. Além disso, a presente divulgação abrange todas as possíveis combinações de formas de realização particulares ou preferenciais aqui descritas.

Breve descrição das figuras

[0056] Para uma mais fácil compreensão da presente divulgação juntam-se em anexo as figuras, as quais, representam realizações preferenciais que, contudo, não pretendem limitar o objeto da presente divulgação.

[0057] Figura 1: Representação de um revestimento de uma estrutura têxtil tecido, malha e não tecido com a composição descrita na presente divulgação.

[0058] Figura 2: A e B representam perspetivas diferentes de um processo para o revestimento do fio têxtil com a composição descrita na presente divulgação.

[0059] Figura 3: Representação de uma realização da presente divulgação em que A representa uma vista do fio têxtil sem pasta e B representa uma vista do fio de cortiça da presente realização, isto é fio têxtil com revestimento de cortiça e secção transversal AA do fio revestido com pasta de revestimento de cortiça.

Descrição detalhada

[0060] A presente divulgação está associada à aplicação de diferentes processos tecnológicos que recorreram a tecnologias de deposição química superficial, nomeadamente revestimento por ação reativa. As soluções obtidas por adoção do processo de investigação preconizado são: estruturas tipo fio, tecido, não tecido e malha, em particular de origem natural ou não natural, em particular sintética ou artificial e revestidas com micropartículas/micro-finos/granulados de cortiça.

[0061] Trata-se de um conceito inovador no que se refere a materiais têxteis com cortiça, em particular fios, tecidos, não tecidos e malhas, uma vez que ao contrário dos produtos existentes atualmente no mercado que são obtidos por colagem de folhas de cortiça finas com um substrato têxtil, estes incorporam elevada quantidade de cortiça de forma reativa, isto é ligada quimicamente ao substrato têxtil, tornando-os produtos únicos e diferenciadores em relação ao estado da arte.

[0062] Numa forma de realização, também se podem utilizar os seguintes processos: esgotamento, imersão e/ou pulverização.

[0063] Numa realização, foi adotada a seguinte metodologia:

• preparação de receituário do banho/pasta de revestimento de micro- finos/granulados de cortiça, uma vez que a cortiça por si só não tem a capacidade de criar ligações de natureza química com os substratos têxteis quer sejam de origem natural quer sejam sintéticos, verifica-se a necessidade de preparar banhos e pastas de revestimento que permitam a ligação química estável entre os micro aditivos de cortiça e os substratos têxteis;

• foram formulados banhos/ pastas de revestimento recorrendo quer às resinas e aditivos convencionais, nomeadamente resinas glioxálicas, termoplásticas (PVC, PU, etc), termoendurecíveis, em particular policloreto de vinilo, poliacetato de vinilo, poliésteres acrílicos, poliestireno, polietileno, poliamida, poliuretano, entre outros, e outros aditivos funcionais, por exemplo ceras/parafinas, silicones, entre outros;

• ligação entre o banho/pasta de cortiça e os substratos têxteis através da tecnologia de revestimento por ação reativa, que consiste na deposição de um polímero na estrutura têxtil a processar.

[0064] Numa forma de realização, a composição do banho/pasta de revestimento pode compreender: aditivo de cortiça, ligante, fixador e espessante.

[0065] Numa realização, o processo de revestimento das estruturas tecido, malha e não tecido é realizado de acordo com a figura 1, em que após a preparação do banho/pasta de revestimento esta é depositada à superfície através de tecnologia de raclagem numa quantidade necessária para que no final se obtenha um valor de aditivo de cortiça(partículas de cortiça) superior a 10% (p _C orti _Ç a/pfio finai) . De seguida a estrutura revestida é sujeita a secagem e termofixação com calor seco (secadeira/ramula) durante o tempo necessário para sua fixação eficaz.

[0066] Numa realização o processo de revestimento, de fio é realizado de acordo com a figura 2. Prepara-se o banho/pasta e coloca-se no balseiro da máquina de revestimento de fio. De seguida, os fios em cru são obrigados a passar no balseiro e "arrastados" por entre 2 rolos de pressão controlada de forma a garantir a deposição superficial de banho de forma uniforme e em quantidade necessária para que no final se obtenha uma percentagem superior a 2% de partículas de cortiça (p _C ortiça/pfio finai) . De seguida os fios são guiados por entre 2 rolos aquecidos onde se faz a pré-secagem e posteriormente bobinados à saída da máquina. Após revestimento, o fio pode ser amaciado por esgotamento num equipamento tipo autoclave.

[0067] Numa realização os processos de aplicação aos substratos têxteis do banho/pasta de revestimento, assim como os seus parâmetros de processamento, temperatura, pressão, tempo, velocidades, entre outros, têm de ser também eles ajustados de forma a garantir a qualidade dos substratos têxteis com incorporação de cortiça. As condições de processamento, quer no que se refere à tecnologia de aplicação, quer em termos de parâmetros, são diferentes para os diferentes substratos, em particular fio, tecido, não tecido e malha. Numa forma de realização, caso se verifiquem constrangimentos que impeçam o sucesso desta solução serão também utilizados processos de preparação prévia dos materiais através da modificação superficial promovida por plasma, ozono, ultrassons, intumescimento com isopropanol ou tolueno entre outros. Estes tratamentos ajudam a limpar e ativar e funcionalizar a superfície dos substratos têxteis, tornando-a mais aptas para se ligar quimicamente.

[0068] Outro processo de aplicação das pastas poderá ser através de pulverização.

[0069] De seguida é apresentado um exemplo da presente divulgação. Os processos de aplicação aos substratos têxteis do banho/pasta, assim como os seus parâmetros de processamento, temperatura, pressão, tempo, velocidades, entre outros, têm de ser também eles ajustados de forma a garantir a qualidade dos substratos têxteis com incorporação de cortiça. [0070] As condições de processamento, quer no que se refere à tecnologia de aplicação, quer em termos de parâmetros, foram diferentes para os fios e para os restantes substratos, em particular tecido, não tecido e malha.

[0071] Numa forma de realização, no caso dos tecidos, não tecidos e malhas pode ser realizado um revestimento a frio feito por raclagem e posterior tratamento de secagem a 100 °C e termofixação a uma temperatura de aproximadamente de 160 °C.

[0072] Numa forma de realização, no caso do fio têxtil, pode ser realizado um revestimento a frio numa máquina de revestimento de fio seguido de um tratamento térmico, em particular secagem, no mesmo equipamento através de rolos aquecidos.

[0073] Os produtos obtidos incorporam elevada quantidade de cortiça de forma reativa, isto é ligada quimicamente ao substrato têxtil, tornando-os produtos únicos e diferenciadores em relação ao estado da arte. Ainda que na presente divulgação se tenham somente representado e descrito realizações particulares da mesma, o perito na matéria saberá introduzir modificações e substituir umas características técnicas por outras equivalentes, dependendo dos requisitos de cada situação, sem sair do âmbito de proteção definido pelas reivindicações anexas.

[0074] As realizações apresentadas são combináveis entre si. As seguintes reivindicações definem adicionalmente realizações.