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Patent Searching and Data


Title:
METHOD FOR OBTAINING FREEZE-DRIED ANIMAL SKIN, FREEZE-DRIED ANIMAL SKIN, USE THEREOF AND KIT
Document Type and Number:
WIPO Patent Application WO/2020/097710
Kind Code:
A1
Abstract:
The present invention describes a method for obtaining freeze-dried tilapia skin, comprising the steps of cleaning by scraping, washing with physiological saline and trimming the edges of the skin; incubating with biocompatible detergent in a sterile recipient and rinsing; incubating with bactericidal agent in a sterile recipient and rinsing; incubating with detoxifying solution and rinsing, incubating with antibiotics, rinsing and freezing, cold freeze-drying, vacuum sealing and sterilization, and more specifically the present invention includes the use of tilapia skin to prepare a remedy for treating lesions in humans and animals. The present invention relates to the fields of pharmacy, medicine, dentistry, veterinary medicine, chemistry, biotechnology and tissue engineering.

Inventors:
FILHO MANOEL ODORICO DE MORAES (BR)
MORAES MARIA ELISABETE AMARAL DE (BR)
RODRIGUES FELIPE AUGUSTO ROCHA (BR)
PAIER CARLOS ROBERTO KOSCKY (BR)
Application Number:
PCT/BR2019/050494
Publication Date:
May 22, 2020
Filing Date:
November 14, 2019
Export Citation:
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Assignee:
JUNIOR EDMAR MACIEL LIMA (BR)
International Classes:
A61L15/40; A61P17/02; C12N5/071; F26B5/06
Domestic Patent References:
WO2017035615A12017-03-09
WO2013144727A22013-10-03
Foreign References:
CN1096458A1994-12-21
US20110244054A12011-10-06
US20160287643A12016-10-06
Other References:
BILLINGHAM R ET AL: "The freezing, drying and storage of mammalian skin", JOURNAL OF EXPERIMENTAL BIOLOGY, vol. 29, 1952, pages 454 - 468, XP055709569, ISSN: 0022-0949
WILLIAM ABBOTT ET AL: "Absence of antigenicity in freeze-dried skin allografts", CRYOBIOLOGY, vol. 6, no. 5, 1 April 1970 (1970-04-01), pages 416 - 418, XP055709558, DOI: 10.1016/S0011-2240(70)80099-2
WILLIAM ABBOTT ET AL: "Comparative Studies on Fresh and Preserved Skin: Fundamental Biologic Differences in Behavior As Grafts", ANNALS OF SURGERY, vol. 172, no. 5, 1 November 1970 (1970-11-01), pages 781 - 786, XP055709580, DOI: 10.1097/00000658-197011000-00002
Attorney, Agent or Firm:
REMER VILLAÇA & NOGUEIRA ASSESSORIA E CONSULTORIA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL S/S (BR)
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Claims:
Reivindicações

1. Processo de obtenção de pele de animal liofilizada caracterizado por compreender liofilização em uma temperatura na faixa de -30°C a -80°C, com pressão interna inferior a 50 pmHg e tempo de 2 a 24 h.

2. Processo, de acordo com a reivindicação 1 , caracterizado pela pele de animal ser obtida preferencialmente de peixes.

3. Processo, de acordo com a reivindicação 2, caracterizado pelo peixe ser opcionalmente tilápia Oreochromis niloticus.

4. Processo, de acordo com qualquer uma das reivindicações 1 a 3, caracterizado por compreender as etapas de:

i) limpeza e recorte da pele de animal;

ii) incubação e enxágue;

iii) congelamento;

iv) liofilização;

v) selagem à vácuo; e,

vi) esterilização.

5. Processo, de acordo com a reivindicação 4 caracterizado por compreender adicionalmente uma etapa vii) de reidratação da pele de animal liofilizada.

6. Processo, de acordo com a reivindicação 4, caracterizado pela etapa (ii) compreender incubação com detergente biocompatível e enxágue; seguida de incubação com agente bactericida e enxágue; seguida de incubação com solução detoxificante e enxágue.

7. Processo, de acordo com a reivindicação 6, caracterizado por ocorrer em ambiente estéril contendo detergente biocompatível selecionado do grupo que compreende 3-[(3-colamidopropil)dimetilamônio]-1 - propanosulfonato, polisorbato 20, t-octilfenoxipolietoxietanol, deoxicolato de sódio ou 4-nonilfenil-polietilenoglicol na faixa de 0,001 - 0,5%, por 15 - 60 minutos, em duas a cinco repetições, seguidas por duas a cinco incubações com água destilada estéril no mesmo recipiente por 15 - 60 minutos.

8. Processo, de acordo com a reivindicação 6, caracterizado pela incubação com agente bactericida compreendida na etapa (ii) ocorrer em recipiente estéril contendo agente bactericida na faixa de 0,005 a 1 ,0%, opcionalmente 0,01 -1 %, por 15 - 60 minutos, seguida de enxágue em água destilada estéril e incubação com água destilada estéril no mesmo recipiente por 15 a 60 minutos, de duas a dez repetições;

em que os agentes bactericidas são selecionados do grupo que compreende: digluconato de clorexidina, clorito de sódio, cloreto de cetilpiridínio, cloramina T e/ou dicloroisocianurato de sódio; opcionalmente o agente bactericida é o digluconato de clorexidina; e

em que a incubação com solução detoxificante compreendida na etapa (ii) ocorre em recipiente estéril contendo tampão ácido acético/acetato ou glicina/HCI ou ácido cítrico/citrato ou fosfato monobásico de sódio/fosfato dibásico de sódio a 0,025 - 0,50 mol/L, pH 3,0 - 6,0, por 30 - 120 minutos, em duas a quinze repetições, seguida de incubação com água destilada estéril no mesmo recipiente por 15 - 60 minutos, em duas a dez repetições; seguida de enxágue com soro fisiológico.

9. Processo, de acordo com a reivindicação 4, caracterizado pela etapa (iii) compreender congelamento na faixa de -20°C a -196°C, durante 8 a 24 h.

10. Processo, de acordo com a reivindicação 4, caracterizado pela etapa (iv) ocorrer em um liofilizador em uma faixa de -30°C a -80°C, com pressão interna inferior a 50 pmHg, opcionalmente na faixa de 30 a 35 pmHg e tempo de 2 a 24h; opcionalmente a liofilização ocorre a -55°C, pressão em torno de 30 pmHg, por tempo suficiente para que a umidade residual do tecido biológico seja reduzida até 10-15%.

1 1. Processo, de acordo com a reivindicação 4, caracterizado pela etapa (v) a selagem é realizada em embalagens plásticas com espessura de 0,15 a 0,20 pm.

12. Processo, de acordo com a reivindicação 4, caracterizado pela etapa (vi) ocorrer com radiação gama gerada por irradiadores de Cobalto 60 e dose entre 5 e 50 kilograys, e opcionalmente, as peles podem ser esterilizadas por radiações ultravioletas com comprimento de onda variando entre 210 e 330 nm e tempo de exposição entre 10 a 100 segundos.

13. Pele de animal liofilizada caracterizada por ser obtida pelo processo conforme definido em qualquer uma das reivindicações 1 a 12.

14. Uso da pele de animal liofilizada, conforme definida na reivindicação 13, caracterizado por ser para a produção de materiais curativos oclusivos para tratamento, em humanos e animais, de uma ou mais das condições compreendidas do grupo: queimaduras de segundo e/ou de terceiro graus, feridas agudas, crónicas e traumáticas, feridas de campo de batalha, áreas doadoras de pele para auto-enxertia, reconstrução de vagina e de assoalho pélvico, construção de neovagina, redesignação sexual em transgêneros, reconstrução de forro nasal e de cavidade oral, reconstrução gengival, ruptura de tecidos, dermatites, lacerações, abrasão, contusão, fasceíte necrotisante, necrólise epidérmica tóxica, síndrome de Stevens Johnson, feridas por pressão, úlceras por insuficiência venosa, úlceras vasculares, úlceras diabéticas ou neuropáticas, úlceras mistas, feridas vasculíticas, pioderma gangrenosos, fístula anal, reconstrução de parede esofágica, reconstrução facial, mucormicose, preenchimento da mucosa oral, cavidade dentária e alvéolos.

15. Kit, caracterizado por compreender pele de animal, opcionalmente de peixe, opcionalmente de tilápia, liofilizada, conforme definida na reivindicação 13.

Description:
Relatório Descritivo de Patente de Invenção

PROCESSO DE OBTENÇÃO DE PELE DE ANIMAL LIOFILIZADA, PELE DE

ANIMAL LIOFILIZADA, USO DA MESMA E KIT

Campo da Invenção

[0001] A presente invenção descreve o processo de obtenção de pele de tilápia liofilizada compreendendo as etapas de limpeza por raspagem, lavagem com soro fisiológico e recorte dos bordos da pele; incubação com detergente biocompatível em recipiente estéril e enxágue; incubação com agente bactericida em recipiente estéril e enxágue, incubação com solução detoxificante e enxágue, incubação com antibióticos, enxágue e congelamento, liofilização à frio, selagem a vácuo e esterilização, mais especificamente a presente invenção compreende o uso da pele de tilápia para preparação de um curativo para tratar lesões em humanos e animais. A presente invenção se situa nos campos de farmácia, de medicina, de odontologia, de medicina veterinária, de química, de biotecnologia e de engenharia de tecidos.

Antecedentes da Invenção

[0002] Atualmente, a medicina humana e veterinária no Brasil não dispõe de nenhuma alternativa de cobertura cutânea temporária heteróloga (de origem animal), como parte do tratamento das queimaduras e feridas. Em países desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos da América, a Pele Porcina industrializada é utilizada com essa finalidade e em larga escala, a várias décadas. A importação desse produto para o Brasil nunca se mostrou comercialmente viável, considerando-se seu alto custo e a realidade económica do país.

[0003] Na busca pelo estado da técnica em literaturas científica e patentária, foram encontrados os seguintes documentos que tratam sobre o tema:

[0004] O documento BR1020150214359A2 se difere da presente invenção por ser processada em glicerol e esterilizada com radiçao gama. Esse produto conservado em glicerol demanda armazenamento sob refrigeração. Ainda, o documento não cita a possibilidade de liofilização.

[0005] LIMA-JUNIOR EM, PICOLLO NS, MIRANDA MJB, RIBEIRO WLC, ALVES APNN, FERREIRA GE, et al. Uso da pele de tilápia (Oreochromis niloticus) como curativo biológico oclusivo no tratamento de queimaduras. Rev Bras Queimaduras. 2017;16(1 ):10-17. O documento se difere da presente invenção ao fazer uso de glicerol na descontaminação da pele, armazenamento do produto em geladeira e possibilidade de resíduos tóxicos do glicerol. Além disso este documento não faz uso da etapa de liofilização a frio no processo.

[0006] ALVES, APNN; LIMA VERDE, MEQ; FERREIRA JÚNIOR, AEC; SILVA, PGB.; FEITOSA, VP; LIMA JÚNIOR, EM; MIRANDA, MJB; MORAES FILHO, MO. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Rev Bras Queimaduras. 2015;14(3):203-10.

[0007] ALVES, APNN; LIMA-JUNIOR, EM; PICOLLO, NS; MIRANDA, MJB; VERDE, MEQL; FERREIRA-JÚNIOR, AEC; SILVA, PGB; FEITOSA, VP; DE BANDEIRA, TJPG; MATHOR, MO; DE MORAES, MO. Study of tensiometric properties, microbiological and collagen content in Nile tilapia skin submitted to different sterilization methods. Cell Tissue Bank. 2018;18(1 ):1 -10

[0008] AZEVEDO-SANTOS, V. M.; RIGOLIN-SÁ, O.; PELICICE, F. M. Growing, losing or introducing? Cage aquaculture as a vector for the introduction of non-native fish in Furnas Reservoir, Minas Gerais, Brazil. Neotropical Ichthyology, 9: 915-919, 201 1.

[0009] BARBOSA HR, RODRIGUES MFA, CAMPOS CC, CHAVES ME, NUNES I, JULIANO Y, NOVO NF. Counting of viable cluster-forming and non cluster-forming bactéria: A comparison between the drop and the spread methods. J Microbiol Methods 1995; 22:39-50.

[0010] BEZERRA, LR; MORAES, MO; BRUNO, ZV; LIMA JÚNIOR, EM; ALVES, AP; BILHAR, AP; DIAS, MTPM; RIOS, LC. Tilapia fish skin: a new biological graft in gynecology. Rev Med UFC. 2018, 58 (2): 6-8 [0011] CARVALHO, E.D. Avaliação dos impactos da piscicultura em tanques- rede nas represas dos grandes tributários do alto Paraná (Tietê e Paranapanema): o pescado, a ictiofauna agregada e as condições limnológicas. Relatório Científico (FAPESP). Botucatu, SP. 2006. 46p.

[0012] CASTAGNOLLI, N. Aquicultura para o ano 2000. Brasília: CNPq, 1996. 95p.

[0013] COSTA BA, LIMA-JUNIOR EM, PICOLLO NS, SILVA JR FR, MARTINS CB, DO NASCIMENTO MFA, DE MORAES MO. Avaliação da redução do uso de analgésicos por pacientes ambulatoriais de um centro de queimados de referência em fortaleza com a aplicação da pele de tilápia como curativo biológico oclusivo no tratamento de queimaduras de segundo grau superficial. Encontros Universitários da UFC. 2017, 2: 884

[0014] LIMA-JÚNIOR, EM; BANDEIRA, TJPG ; MIRANDA, MJB; FERREIRA, GE; PARENTE, EA; PICCOLO, NS & MORAES FILHO, MO. Characterization of the microbiota of the skin and oral cavity of Oreochromis niloticus. Journal of Health & Biological Sciences 2016; 4(3): 193-197.

[0015] LIMA-JUNIOR, EM. Tecnologias inovadoras: uso da pele da tilápia do Nilo no tratamento de queimaduras e feridas. Rev Bras Queimaduras. 2017;16(1 ):1 -2

[0016] Assim, do que se depreende da literatura pesquisada, não foram encontrados documentos antecipando ou sugerindo os ensinamentos da presente invenção, de forma que a solução aqui proposta possui novidade e atividade inventiva frente ao estado da técnica.

Sumário da Invenção

[0017] Dessa forma, a presente invenção resolve os problemas do estado da técnica a partir do processo de obtenção da pele de tilápia liofilizada, cuja utilização é na preparação de curativos para tratar lesões de humanos e animais, como queimaduras de segundo e de terceiro graus, feridas agudas, crónicas e traumáticas, feridas de campo de batalha, áreas doadoras de pele para auto-enxertia, reconstrução de vagina e de assoalho pélvico, construção de neovagina, redesignação sexual em transgêneros, reconstrução de forro nasal e de cavidade oral, reconstrução gengival, ruptura de tecidos, dermatites, lacerações, abrasão, contusão, fasceíte necrotisante, necrólise epidérmica tóxica (NET), Síndrome de Stevens-Johnson, feridas por pressão, úlceras por insuficiência venosa, úlceras vasculares, úlceras diabéticas ou neuropáticas, úlceras mistas, feridas vasculíticas, pioderma gangrenosos, fístula anal, reconstrução de parede esofágica, reconstrução facial, mucormicose. Na odontologia pode ser usado para preenchimento de mucosa oral, cavidade dentária e alvéolos.

[0018] Adicionalmente, dependendo da lesão a ser tratada, a pele de tilápia liofilizada pode ser usada nas lesões com ou sem suturas e com ou sem curativos.

[0019] A presente invenção ainda apresenta as seguintes vantagens:

[0020] Ausência de uso de glicerol como crioprotetor para conservação da pele de tilápia. A ausência do glicerol elimina as chances de dor ao paciente por eventual contaminação da ferida com resíduos dessa substância em razão da presença de resíduos de álcool e redução da carga microbiana prévia.

[0021] A presente invenção apresenta em um de seus objetos a alternativa à conservação em glicerol como compreendendo a etapa de desidratação (liofilização a frio) da pele de tilápia, o que reduz a presença de água no tecido, inviabilizando o crescimento microbiano, aumentando a sua estabilidade química (validade) e dispensando a necessidade de sua refrigeração.

[0022] A não obrigatoriedade à refrigeração da pele liofilizada e embalada a vácuo garante a redução dos custos do armazenamento e do transporte do produto. A embalagem a vácuo da pele liofilizada reduz o contato do produto com o oxigénio atmosférico, diminuindo os danos por oxidação do produto.

[0023] A pele liofilizada nas condições padronizadas nesta invenção é passível de reidratação macroscópica rápida, o que a torna mais adequada ao uso na prática médica e veterinária.

[0024] A presente invenção apresenta como conceito inventivo os seguintes objetos:

[0025] A presente invenção apresenta como primeiro objeto processo de obtenção de pele de animal liofilizada compreendendo liofilização a frio em uma temperatura na faixa de -30°C a -80°C, com pressão interna inferior a 50 pmHg e tempo de 2 a 24 h.

[0026] Como um segundo objeto, tem-se a pele de animal liofilizada obtida pelo processo descrito no primeiro objeto e suas realizações.

[0027] Em um terceiro objeto tem-se o uso da pele de animal liofilizada para a produção de materiais curativos para tratamento em humanos e animais compreendidos do grupo: queimaduras de segundo e/ou de terceiro graus, feridas agudas, crónicas e traumáticas, feridas de campo de batalha, áreas doadoras de pele para auto-enxertia, reconstrução de vagina e de assoalho pélvico, construção de neovagina, redesignação sexual em transgêneros, reconstrução de forro nasal e de cavidade oral, reconstrução gengival, ruptura de tecidos, dermatites, lacerações, abrasão, contusão, fasceíte necrotisante, necrólise epidérmica tóxica (NET), síndrome de Stevens Johnson, feridas por pressão, úlceras por insuficiência venosa, úlceras vasculares, úlceras diabéticas ou neuropáticas, úlceras mistas, feridas vasculíticas, pioderma gangrenosos, fístula anal, reconstrução de parede esofágica, reconstrução facial, mucormicose, preenchimento da mucosa oral, cavidade dentária e alvéolos.

[0028] A presente invenção apresenta como um quarto objeto o kit compreendendo a pele de animal, opcionalmente de peixe, opcionalmente de tilápia, liofilizada.

[0029] Estes e outros objetos da invenção serão imediatamente valorizados pelos versados na arte e serão descritos detalhadamente a seguir.

Descrição Detalhada da Invenção

[0030] A presente invenção prove um processo para a produção de pele de tilápia liofilizada, cuja utilização é na preparação de curativos para tratar lesões de humanos e animais, como queimaduras de segundo e de terceiro graus, feridas agudas, crónicas e traumáticas, feridas de campo de batalha, áreas doadoras de pele para auto-enxertia, reconstrução de vagina e de assoalho pélvico, construção de neovagina, redesignação sexual em transgêneros, reconstrução de forro nasal e de cavidade oral, reconstrução gengival, ruptura de tecidos, dermatites, lacerações, abrasão, contusão, fasceíte necrotisante, necrólise epidérmica tóxica (NET), Síndrome de Stevens-Johnson, feridas por pressão, úlceras por insuficiência venosa, úlceras vasculares, úlceras diabéticas ou neuropáticas, úlceras mistas, feridas vasculíticas, pioderma gangrenosos, fístula anal, reconstrução de parede esofágica, reconstrução facial, mucormicose. Na odontologia pode ser usado para preenchimento de mucosa oral, cavidade dentária e alvéolos.

[0031] A presente invenção ainda apresenta as seguintes vantagens:

[0032] Ausência de uso de glicerol como crioprotetor para conservação da pele de tilápia. O glicerol é significativamente hidrofílico, fazendo com que a pele absorva umidade do ambiente se não for armazenada em ambiente seco, a baixas temperaturas, para retardar o ganho de água. Por essa razão a pele conservada em glicerol deve ser obrigatoriamente armazenada em geladeira. Do contrário, ela absorverá muita água, o que acelera reações de hidrólise, favorece o crescimento microbiano em caso de contaminação e reduz a validade/estabilidade do produto. Ainda, a eventual multiplicação de microrganismos se utilizaria do próprio glicerol como fonte de carbono.

[0033] A presente invenção apresenta em um de seus objetos a alternativa à conservação em glicerol como compreendendo a etapa de desidratação (liofilização a frio) da pele de tilápia, o que reduz a presença de água no tecido, inviabilizando o crescimento microbiano. Além disso, a ausência do glicerol elimina as chances de dor ao paciente por eventual contaminação da ferida com resíduos dessa substância em razão da presença de resíduos de álcool.

[0034] Apresenta a etapa de redução da carga microbiana prévia, possibilitando menor dose de radiação para a esterilização completa, o que pode gerar menor dano à morfologia da pele pelos raios gama. O presente processo é compatível com a liofilização e irradiação posterior, isto é, é capaz de eliminar a dependência de uma etapa de refrigeração e de reduzir previamente a carga microbiana da pele. Isso demandaria menor dose de radiação para a esterilização completa, acarretando menores modificações na morfologia da pele em razão dos raios gama usados. Adicionalmente, o novo processo não pode inviabilizar a liofilização prévia à radiosterilização, tampouco deve deixar resíduos tóxicos na pele.

[0035] O processo de descontaminação é compatível com a liofilização, que desidrata sem usar calor e, portanto, sem desnaturar as proteínas da pele e alterar sua morfologia, necessária à função de curativo biológico.

[0036] O processo do presente pedido reduz o conteúdo de água do produto, aumentando a sua estabilidade química e microbiológica, resultando em maior validade e dispensando a necessidade de sua refrigeração.

[0037] A embalagem a vácuo da pele liofilizada reduz o contato do produto com o oxigénio atmosférico, diminuindo os danos por oxidação do produto.

[0038] A não obrigatoriedade à refrigeração da pele liofilizada e embalada a vácuo garante a redução dos custos do armazenamento e do transporte do produto.

[0039] A adição de uma etapa de lavagem dos resíduos do processo de descontaminação aumenta a segurança do produto, pois elimina resquícios de contaminantes químicos citotóxicos.

[0040] A pele liofilizada nas condições padronizadas nesta invenção é passível de reidratação macroscópica rápida, o que a torna mais adequada ao uso na prática médica e veterinária.

[0041] A pele de tilápia liofilizada do presente invento pode ser usada como material curativo oclusivo, pois não pode ser considerada um enxerto, considerando que não é incorporada pelo organismo, tampouco se torna irrigada por vasos sanguíneos do indivíduo receptor. Portanto, após período variável de tempo, a pele é total ou parcialmente eliminada do sítio de aplicação. Por essa razão, o uso do termo “curativo oclusivo” ou mesmo “curativo biológico” em face ao uso temporário da invenção.

[0042] A presente invenção apresenta como primeiro objeto um processo de obtenção de pele de animal liofilizada compreendendo liofilização em uma temperatura na faixa de -30°C a -80°C, com pressão interna inferior a 50 pmHg e tempo de 2 a 24 h, em que a pele liofilizada obtida é passível de reidratação macroscópica.

[0043] Em uma realização, a reidratação ocorre opcionalmente em soro fisiológico estéril, à temperatura ambiente, por imersão em bandeja hospitalar de aço inoxidável, em que o volume de soro deve ser suficiente para imergir a pele no soro fisiológico durante opcionalmente 15 minutos, sem que haja a necessidade da agitação da bandeja.

[0044] Em uma realização, a pele de animal é obtida preferencialmente de peixes.

[0045] Em uma realização, o peixe é opcionalmente tilápia Oreochromis niloticus. Em uma realização, o processo compreende as etapas de:

i) limpeza e recorte da pele de tilápia;

ii) incubação e enxágue;

iii) congelamento;

iv) liofilização;

v) selagem à vácuo; e,

vi) esterilização.

[0046] Em uma realização, o processo compreende adicionalmente uma etapa vii) de reidratação da pele de animal liofilizada.

[0047] Em uma realização, na etapa (i), a limpeza compreende ser por raspagem mecânica, seguida de lavagem com soro fisiológico e recorte dos bordos da pele;

[0048] Em uma realização, a etapa (ii) compreende incubação com detergente biocompatível e enxágue; seguida de incubação com agente bactericida e enxágue; seguida de incubação com solução detoxificante e enxágue.

[0049] Em uma realização, o processo ocorre em ambiente estéril contendo detergente biocompatível selecionado do grupo que compreende 3-[(3- Colamidopropil)dimetilamônio]-1 -propanosulfonato (CHAPS), Polisorbato 20 (Tween 20), t-Octilfenoxipolietoxietanol (Triton X-100), Deoxicolato de sódio ou 4-Nonilfenil-polietilenoglicol (Substituto Nonidet P 40), ou uma combinação destes na faixa de 0,001 - 0,5%, por 15 - 60 minutos, em duas a cinco repetições, seguidas por duas a cinco incubações com água destilada estéril no mesmo recipiente por 15 - 60 minutos.

[0050] Em uma realização, a incubação com agente bactericida compreendida na etapa (ii) ocorre em recipiente estéril contendo agente bactericida na faixa de 0,005 a 1 ,0%, (opcionalmente 0,01 % - 1 %) por 15 - 60 minutos, seguida de enxágue em água destilada estéril e incubação com água destilada estéril no mesmo recipiente por 15 a 60 minutos, de duas a dez repetições, em que os agentes bactericidas são selecionados do grupo que compreende: digluconato de clorexidina, clorito de sódio, cloreto de cetilpiridínio, cloramina T e/ou dicloroisocianurato de sódio; opcionalmente o agente bactericida é o digluconato de clorexidina.

[0051] Em uma realização, a incubação com solução detoxificante compreendida na etapa (ii) ocorre em recipiente estéril contendo tampão ácido acético/acetato ou glicina/HCI ou ácido cítrico/citrato ou fosfato monobásico de sódio/fosfato dibásico de sódio a 0,025 - 0,50 mol/L, pH 3,0 - 6,0, por 30 - 120 minutos, em duas a quinze repetições, seguida de incubação com água destilada estéril no mesmo recipiente por 15 - 60 minutos, em duas a dez repetições; seguida de enxágue com soro fisiológico.

[0052] Em uma realização, a etapa (iii) compreende congelamento na faixa de -20°C a -196°C, durante 8 a 24 h, em que opcionalmente utiliza-se N 2 líquido no congelamento.

[0053] Em uma realização, a etapa (iv) ocorre em um liofilizador em uma faixa de -30°C a -80°C, com pressão interna inferior a 50 pmHg, opcionalmente entre 30 e 35 pmHg e tempo de 2 a 24h.

[0054] Em uma realização, a liofilização ocorre opcionalmente a -55°C, pressão em torno de 30 pmHg e tempo de 3h30min para peles com diagonal maior de até 16 cm; 5h para peles com diagonal maior de até 25 cm; opcionalmente as peles são liofilizadas por tempo suficiente para que a umidade residual do tecido biológico seja reduzida ate 10-15%.

[0055] Em uma realização, na etapa (v) a selagem é realizada em embalagens plásticas com espessura de 0,15 a 0,20 pm.

[0056] Em uma realização, a etapa (vi) ocorre com radiação gama gerada por irradiadores de Cobalto 60 e dose entre 5 e 50 kilograys, opcionalmente 25 kilograys.

[0057] Em uma realização, a etapa (vi) compreende opcionalmente a esterilização das peles por radiação ultravioleta, com comprimento de onda variando entre 210 e 330 nm e tempo de exposição entre 10 e 100 segundos.

[0058] Como um segundo objeto, tem-se a pele de animal, opcionalmente de peixe, opcionalmente de tilápia liofilizada obtida pelo processo descrito no primeiro objeto e suas realizações.

[0059] Em um terceiro objeto tem-se o uso da pele de animal, opcionalmente de peixe, opcionalmente de tilápia liofilizada para a produção de materiais curativos oclusivos para tratamento em humanos e animais de uma ou mais das condições compreendidas do grupo: queimaduras de segundo e/ou de terceiro graus, feridas agudas, crónicas e traumáticas, feridas de campo de batalha, áreas doadoras de pele para auto-enxertia, reconstrução de vagina e de assoalho pélvico, construção de neovagina, redesignação sexual em transgêneros, reconstrução de forro nasal e de cavidade oral, reconstrução gengival, ruptura de tecidos, dermatites, lacerações, abrasão, contusão, fasceíte necrotisante, necrólise epidérmica tóxica (NET), síndrome de Stevens Johnson, feridas por pressão, úlceras por insuficiência venosa, úlceras vasculares, úlceras diabéticas ou neuropáticas, úlceras mistas, feridas vasculíticas, pioderma gangrenosos, fístula anal, reconstrução de parede esofágica, reconstrução facial, mucormicose, preenchimento da mucosa oral, cavidade dentária e alvéolos. [0060] A presente invenção apresenta como um quarto objeto kit compreendendo a pele de animal, opcionalmente de peixe, opcionalmente de tilápia liofilizada.

Exemplos

[0061] Os exemplos aqui mostrados têm o intuito somente de exemplificar uma das inúmeras maneiras de se realizar a invenção, contudo sem limitar o escopo da mesma.

Exemplo 1 - Obtenção da pele de tilápia liofilizada

[0062] Inicialmente, as tilápias são obtidas de psiculturas, que utilizam sistemas de cultivo (tanques-rede), passando por um processo de esterilização, conforme descrito abaixo.

[0063] Após o abate do peixe, as peles de tilápia (pesando entre 800 e 1500 g) serão removidas e submetidas à lavagem em água corrente, para a remoção de qualquer resquício de sangue e outras impurezas e colocadas em depósitos plásticos estéreis, em caixas isotérmicas com gelo, para o transporte até o laboratório, onde são realizadas as seguintes etapas:

Etapa 1 - Limpeza das peles

[0064] A limpeza das peles é feita com soro fisiológico (solução de NaCI a 0,9%), retirada do excesso de músculo da derme e recorte dos bordos da pele. Etapa 2 - Incubação com detergente biocompatível em recipiente estéril

[0065] As peles são colocadas em um recipiente estéril, contendo 3-[(3- Colamidopropil)dimetilamônio]-1 -propanosulfonato (CHAPS) a 0,25%, onde permanecerão por 15 minutos e serão empregadas em uma repetição desta etapa, para em seguida serem incubadas em água destilada estéril por 25 minutos.

Etapa 3 - Incubação em recipiente estéril com agente bactericida

[0066] As peles são colocadas em um recipiente estéril, contendo digluconato de clorexidina a 0,05%, onde permanecerão por 60 minutos e serão incubadas em água destilada estéril por 25 minutos.

Etapa 4 - Incubação em recipiente estéril com solução detoxificante [0067] As peles são colocadas em um recipiente estéril, contendo tampão ácido cítrico/citrato 0,5 mol/L pH 6,0, onde permanecerão por 120 minutos e serão empregadas em uma repetição desta etapa, para em seguida serem incubadas em água destilada estéril por 15 minutos e em uma repetição dessa incubação.

Etapa 5 - Enxágue e congelamento

[0068] As peles são enxaguadas em soro fisiológico e congeladas entre -20°C e -196°C, por 8 a 24h, em bandeja metálica, com a face cinzenta (preenchida por melanóforos) voltada para baixo. Opcionalmente pode ser utilizado N 2 para a realização desse congelamento.

Etapa 6 - Liofilizacão

[0069] As peles congeladas são adicionadas em liofilizador a -30°C a -80°C, com pressão interna inferior a 50 pmHg, opcionalmente entre 30 e 35 pmHg, em um intervalo de tempo de 2 a 24 h, em sala limpa, entre 18°C e 37°C, opcionalmente a 25°C.

Etapa 7 - Selagem à vácuo

[0070] Após o tempo no liofilizador as peles são retiradas do liofilizador e embaladas individualmente ou com várias unidades, em máquinas de vácuo, em ambiente de Classificação Sala Limpa tipos 5 a 7, em plástico apropriado, de espessura de 0,15 a 0,20 pm.

Etapa 8 - Esterilização

[0071] As peles desidratadas e embaladas a vácuo são radioesterilizadas com radiação Gama gerada em irradiador de Cobalto 60, com dosagens de carga que variam entre 5 a 50 kilograys.

[0072] Opcionalmente, as peles desidratadas poderão também ser esterilizadas por radiação ultravioleta, com comprimento de onda variando entre 210 nm e 330 nm e tempo de exposição entre 10 a 100 segundos.

Exemplo 2 - Testes microbiolóqicos

[0073] Foram realizados testes microbiológicos, para bactérias gram +, gram - e fungos, iniciando-se na pele in natura, ou seja, antes da primeira etapa e nas etapas descritas acima. Quando os níveis de Bioburden, utilizados para contagem bacteriana, ou seja, a Análise Microbiológica de Bioburden, ou Microbial Limit Test, que é realizada em produtos farmacêuticos e produtos médicos que exigem controle de níveis microbianos durante o processamento e a manipulação, estiverem dentro dos limites aceitáveis, a pele estará disponível para uso.

[0074] A pele de tilápia liofilizada da presente invenção foi testada quanto à toxicidade in vitro, conforme diretriz da ISO 10993-5. A pele foi considerada não citotóxica, pois permitiu uma viabilidade celular superior a 75% no teste de citotoxicidade por extrato com a linhagem L929, derivada de fibroblasto murino. Posteriormente, a pele liofilizada foi usada em modelos murinos de queimaduras, em comparação com a pomada de sulfadiazina de prata. Além de promover a cicatrização de forma não inferior à pomada, a pele de Tilápia promoveu queda das citocinas pró-inflamatórias no sítio da lesão, revelando uma ação antiinflamatória pronunciada em relação ao tratamento tradicional. Por fim, estudos clínicos em voluntários queimados foram iniciados recentemente. A pele liofilizada tem se mostrado uma excelente alternativa em relação à pele conservada em glicerol. Todos esses resultados atestam a segurança da pele liofilizada, no entanto, as pesquisas citadas estão em fase de conclusão e demandam outras análises, como avaliações histológicas e proteômicas.

Exemplo 3 - Uso das peles de tilápia liofilizadas

[0075] Adicionalmente, a pele liofilizada nas condições padronizadas nesta invenção é passível de reidratação macroscópica rápida, o que opcionalmente a torna mais adequada ao uso na prática médica e veterinária.

[0076] Em uma realização da reidratação macroscópica, a reidratação ocorre opcionalmente em soro fisiológico estéril, à temperatura ambiente, por imersão em bandeja hospitalar de aço inoxidável, em que o volume de soro deve ser suficiente para imergir a pele no soro fisiológico durante opcionalmente 15 minutos, sem que haja a necessidade da agitação da bandeja. [0077] A pele da tilápia manufaturada da forma descrita será utilizada no tratamento médico e veterinário de lesões, promovendo a aceleração dos processos de cicatrização e de reparação da ferida (por ação do Colágeno Tipo I existente em sua estrutura histológica), pelo fato de aderir ao leito da ferida, proporcionando a retenção de exsudatos e evitando a perda de líquidos, promovendo uma barreira à invasão bacteriana e proporcionando o alívio da dor.

[0078] Os versados na arte valorizarão os conhecimentos aqui apresentados e poderão reproduzir a invenção nas modalidades apresentadas e em outras variantes e alternativas, abrangidas pelo escopo das reivindicações a seguir.