COMPOSIÇÃO PARA HIGIENE ÍNTIMA PROLONGADA E PARA REDUÇÃO DE ODORES, PROCESSO DE PRODUÇÃO E USO Campo da Invenção

A presente invenção refere-se ao campo de composições para higiene pessoal. Mais particularmente, a invenção revela uma composição para promover a higiene pessoal íntima prolongada que proporciona a redução da concentração de substâncias formadoras de maus odores. São descritos também seu processo de obtenção e uso.

Antecedentes da Invenção

Atualmente, as pessoas estão sujeitas a inúmeros compromissos sociais e profissionais no transcorrer do dia que habitualmente são longos e que não oferecem condições adequadas para a realização dá higiene íntima. Este fato gera insegurança diante da possibilidade concreta do desprendimento de odores e da produção de secreções que possam manchar suas vestes.

A higiene genital, especialmente das mulheres, reveste-se de especial importância, tanto por tratar-se de região anatómica de difícil acesso, quanto pela falta de conhecimento sobre o assunto, ou mesmo por acumular diferentes secreções e substâncias. Os estudos sobre o comportamento do ecossistema vaginal têm trazido novos entendimentos da magnífica e perfeita interação entre as milhões de bactérias que colonizam a luz desta cavidade. Sabe-se que o ecossistema vaginal é instável e sujeito a muitas variações que dependem da alimentação, atividade sexual, produção hormonal, uso de medicamentos e também da higiene genital. Apesar disto, infelizmente os conhecimentos não são os mesmos para a região vulvar. É razoável supor, no entanto, que a higiene nesta região tenha um papel muito mais acentuado.

Segundo o guia sobre higiene íntima da FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), uma higienização íntima (vulvar) adequada é essencial para ajudar a manter a limpeza e o equilíbrio do pH ácido da região, muito afetado pelo dia a dia da mulher moderna que passa muito tempo fora de casa e usa roupas que promovem a falta de aeração e compressão exagerada. Desta forma, a higienização adequada da região íntima

5 feminina é uma grande aliada na ajuda da proteção da mulher. A higienização da região íntima feminina é mais adequadamente feita com sabonete líquido, pois a maioria dos sabonetes em barra apresenta pH neutro ou alcalino, além de poder ser compartilhado por outras pessoas da mesma casa. Preferencialmente os produtos devem apresentar leve detergência (alta taxa de detergência poderá i o ressecar a pele vulvar), serem hipoalergênicos e com pH fisiológico (levemente ácido e que não seja neutro ou alcalino).

A higiene corporal é, sem dúvida alguma, uma necessidade de todos e em especial, das mulheres no tocante a sua área genital. Apesar de esta prática ser usual e cotidiana, muitas mulheres ainda têm dúvidas quanto à forma,

15 frequência e a ocasião correta de efetuá-la. Em condições normais, há uma constante e significativa descamação de células da pele e da semimucosa da região vulvar, além da transpiração e da natural descarga vaginal fisiológica. Para que as células da pele tenham um perfeito funcionamento é necessário manter o pH entre 4,6 e 5,9 (ácido). A pele da vulva comporta-se da mesma

20 maneira e funciona mais adequadamente quando o seu pH é ácido. Portanto, todas as substâncias e condições físico-químicas que alterem o pH da pele da vulva poderão trazer transtornos para o seu bom funcionamento.

A genitália externa feminina é formada por inúmeras dobras de pele e localiza-se em região que dificulta muito sua aeração. Ambas as características

25 favorecem a umidade, o aumento da temperatura e a dificuldade da remoção de detritos. Além disso, a pele da região íntima bem como do resto do corpo, devido à disposição das suas células (queratinócitos) e a produção de substâncias (ceramidas, ácidos graxos, triglicérides, esteróides livres, colesterol, ésteres de gordura, esqualeno) formam uma "Barreira Cutânea" que evita a perda de água

30 e outros elementos. Essa barreira é tanto uma barreira física quanto antimicrobiana com função imunológica, e estabelece uma interface sensorial e promove a manutenção do pH fisiológico (Manto Ácido Cutâneo).

O manto ácido cutâneo é um dos principais responsáveis pelo equilíbrio do ecossistema microbiológico e pelo perfeito funcionamento das células da pele. A exemplo de outras partes do nosso corpo, a manutenção do pH em faixas restritas é fundamental para que as reações bioquímicas transcorram sem dificuldades. A desestrutu ração da barreira cutânea e do manto ácido poderá favorecer o dano tecidual e comprometer o equilíbrio do ecossistema vulvar desencadeando processos alérgicos e infecciosos. Existem vários fatores que podem comprometer a homeostasia da região genital e da pele ativando a produção de citocinas pró-inflamatórias, moléculas de adesão celular, síntese de DNA, entre outros. Fatores como história familiar de pele seca, doenças como eczema e psoríase, uso de medicamentos que ressecam a pele, envelhecimento, exposição ao sol, vento e baixa umidade do ar, uso de sabões e limpadores inadequados promovem o ressecamento da pele e facilitam as lesões cutâneas pela formação de solução de continuidade entre os queratinócitos. Além disto, estabelece-se um processo inflamatório crónico que aumentará o risco de infecções. A higienização genital se faz necessária para evitar acúmulo de secreções, células mortas e de detritos. É natural presumir que a falta de higiene poderá causar mau cheiro, prurido (coceira), acúmulo de secreção e infecção vulvar e vaginal. A região genital feminina além de mais sensível está sujeita a uma colonização bacteriana mais intensa, oclusões e compressões por hábitos de vestimenta e maior fricção pela localização anatómica, ou seja, está mais susceptível aos desajustes do seu ecossistema. O uso prolongado de absorventes oclusivos e de roupas que promovem a falta de aeração e compressão exagerada devem ser evitados. Na região vulvar, por causa das muitas dobras de pele, as agressões costumam ser mais frequentes.

O uso crónico e continuado de sabonetes inapropriados na higienização da genitália feminina tem a potencialidade de promover desajustes no micro ambiente e favorecer processos irritativos e infecciosos. Apesar dos problemas serem conhecidos, poucas iniciativas concretas efetivamente alcançaram soluções satisfatórias. No âmbito patentário, são conhecidas algumas abordagens parcialmente relevantes no contexto da presente invenção, sendo descritas a seguir.

O documento EP 2236127 (Rottapharm S.p.A.) descreve uma composição para higiene íntima que compreende uma ou mais substâncias ativas em conjunto com a goma de xantana, onde este é um agente capaz de favorecer bio-adesão das substâncias ativas para a pele e mucosas. Exemplos dessas substâncias ativas incluem, sem limitações, o ácido lático, que contribui para manter o pH fisiológico da superfície da vulva levemente ácido, impedindo o desenvolvimento de patógenos, e também soro de leite pasteurizado e atomizado, que em conjunto com o ácido lático possui ação tamponante e garante uma acidez continuada da superfície da vulva. A presente invenção difere do referido documento, dentre outros motivos, por ser direcionada a outros problemas, e não à adesão da formulação pelo uso de goma xantana. Ademais, goma xantana não é utilizada na presente invenção, sendo um polissacarídeo muito distinto dos oligossacarídeos. Os polissacarídeos são constituídos por grande quantidade de monossacarídeos, já os oligossacarídeos são constituídos por apenas 2 a 10 monossacarídeos. Na presente invenção, o efeito duradouro da redução de odores por períodos mais prolongados é fornecido pela associação de uma fragrância com uma composição base contendo um regulador de pH para a região mucosa; um hidratante; e um componente que estimula o crescimento da flora saprófita, combinação esta que reduz a concentração de substâncias com odores desagradáveis.

O documento US 6,706,941 revela um artigo absorvente e não a uma composição líquida de higiene. No referido absorvente, os microorganismos de uma flora saprófita da pele ou microorganismos não patógenos à pele podem se proliferar, assim, suprimindo o crescimento de microorganismos possivelmente patógenos em volta da área aplicada e reduzindo o odor e a dermatite. O referido documento é relacionado à incorporação, a um artigo absorvente, de um composto contendo um esqueleto a-1-2, tal como glicooligossacarídeo que pode atuar como substrato para as enzimas presentes somente em certas bactérias. O referido documento difere dos conhecimentos revelados pela presente invenção, dentre outros motivos, por não proporcionar uma composição líquida para higiene íntima que contempla a associação de uma fragrância com uma composição base contendo um regulador de pH para a região mucosa; um hidratante; e um componente que estimula o crescimento da flora saprófita, combinação esta que reduz a concentração de substâncias com odores desagradáveis.

O documento WO 2010/004005 (Alliospharma) descreve composições farmacêuticas e dermatológicas que compreendem um probiótico escolhido a partir de oligossacarideos, como, por exemplo, glico-oligossacarídeos (GOS), fruto-oligossacarídeos (FOS), galacto-oligossacaridéos, e um extrato de planta contendo isoflavonas escolhidos a partir de extratos de soja {Glycine max) e extratos de trevo (Trifolium sp.), para utilização no tratamento de vaginoses bacterianas e/ou para o tratamento da mucosa vaginal. A presente invenção difere do referido documento, dentre outros motivos, por apresentar em sua composição a associação de oligossacarideos não com extratos de plantas (que podem ser apresentar problemas de estabilidade e/ou variabilidade composicional devido à sazonalidade), mas sim com ácido lático e soro de leite, que atuam como hidratante e ingrediente de recuperação dos tecidos, proporcionando assim alguns dos efeitos desejáveis mencionados anteriormente. O referido documento tampouco apresenta ou sequer sugere um composição líquida para higiene íntima que contempla a associação de uma fragrância com uma composição base contendo um regulador de pH para a região mucosa; um hidratante; e um componente que estimula o crescimento da flora saprófita, combinação esta que reduz concentração de substâncias com odores desagradáveis, como é o caso da presente invenção.

No que diz respeito às composições para controle de odores da região vaginal, as atuais soluções conhecidas (EP 1886698, EP 1842564, WO 2008/104960, US 2010/324512) são sempre voltadas para o uso de artigos absorventes que ficam presentes na região, e não em composições líquidas de cuidado e limpeza, como é o caso da presente invenção. Além disso, os sistemas descritos nos referidos documentos compreendem 2 classes de compostos, um possuindo uma volatilidade baixa, capaz de disfarçar o mal odor e um segundo com uma volatilidade alta, que afeta os receptores nasais. A presente invenção difere destes documentos por proporcionar uma composição líquida para higiene íntima que contempla a associação de uma fragrância com uma composição base contendo um regulador de pH para a região mucosa; um hidratante; e um componente que estimula o crescimento da flora saprófita, combinação esta que proporciona o surpreendente efeito de reduzir a concentração de substâncias com odores desagradáveis, em vez de apenas disfarçá-los.

O documento PCTBR 2013/000088, do presente depositante e ainda em fase de sigilo, é intitulado "Composição para Higiene íntima Prolongada, Processo de Produção e Uso". A composição de efeito prolongado do referido documento, entre outras características, proporciona a manutenção de um pH equilibrado na região mucosa onde é aplicado, regulando a acidez cutânea e evitando ou minimizando a proliferação de flora microbiana/bacteriana indesejável. Referida composição, denominada aqui de "composição base", compreende: um regulador de pH para a região mucosa; um hidratante; e um componente que estimula o crescimento da flora saprófita. A presente invenção difere do referido documento por proporcionar uma composição que compreende a associação de uma frangrância com a referida "composição base". Surpreendentemente, esta combinação peculiar proporciona o surpreendente efeito de reduzir a concentração de substâncias com odores desagradáveis, em vez de apenas disfarçá-los, como será demonstrado nos resultados experimentais. A presente invenção proporciona uma nova abordagem no desenvolvimento de produtos na forma de composição líquida estável para higiene íntima. Além de proporcionar ação prolongada pela (i) manutenção de um pH equilibrado na região mucosa onde é aplicado, regulando a acidez cutânea, (ii) evitar ou minimizem a proliferação de flora microbiana/bacteriana indesejável, (iii) proporcionar hidratação, a composição da invenção adicionalmente proporciona (iv) a redução da concentração de substâncias com odores desagradáveis.

Do que se depreende da literatura pesquisada, não foram encontrados documentos antecipando ou sugerindo os ensinamentos da presente invenção, de forma que a solução aqui proposta, aos olhos das inventoras, possui todos os requisitos de patenteabilidade frente ao estado da técnica.

Sumário da Invenção

Em um primeiro aspecto, a presente invenção proporciona uma composição para higiene íntima prolongada compreendendo a combinação de:

- uma fragrância; e

- uma composição base compreendendo: regulador de pH para a região mucosa; componente hidratante; e um componente seletivo para o crescimento da flora saprófita.

Essa combinação proporciona, com ação prolongada, a concentração de substâncias com odores desagradáveis, além de manter um pH equilibrado na região da mucosa onde é aplicada, regulando a acidez cutânea; evita/minimiza a proliferação de flora microbiana/bacteriana indesejável; e proporciona hidratação.

Em uma concretização preferencial, a composição compreende: de 0,2% a 0,7% em peso de fragrância; e uma composição base compreendendo: de 0,1% a 10% em peso de componente seletivo para o crescimento da flora saprófita, de 0,1% a 20%; em peso de componente hidratante; de 0,1% a 20% em peso de regulador de pH.

Em uma concretização preferencial, o componente que estimula o crescimento da flora saprófita é alfa-glucano oligossacarídeo.

É um outro objeto da presente invenção um processo de produção da referida composição para higiene íntima. O processo da invenção compreende as etapas de misturar (i) uma base compreendendo: regulador de pH para a região mucosa; componente hidratante; e um componente seletivo para o crescimento da flora saprófita; e (ii) fragrância, a um ou mais veículos cosmeticamente aceitáveis até que o pH fique na faixa de 4,2 a 4,8.

Estes e outros objetos da invenção serão imediatamente valorizados pelos versados na arte e pelas empresas com interesses no segmento, e serão 5 descritos em detalhes suficientes para sua reprodução na descrição a seguir.

Descrição das figuras

A figura 1 mostra um cromatograma obtido para SPME do ácido butírico de (A) a composição da invenção que proporciona a redução da concentração í o de substâncias com odores desagradáveis; e (B) uma composição que não proporciona a redução da concentração de substâncias com odores desagradáveis (ou seja, que não usa a combinação composição base/fragrância da presente invenção).

15 Descrição Detalhada da Invenção

A presente invenção proporciona uma composição líquida para higiene íntima prolongada que proporciona a redução da concentração de substâncias com odores desagradáveis, referida composição compreendendo a combinação de:

20 - uma fragrância; e

- Uma composição base compreendendo: regulador de pH para a região mucosa; componente hidratante; e um componente seletivo para o crescimento da flora saprófita.

Essa combinação proporciona uma ação prolongada, a redução da 25 concentração de substâncias com odores desagradáveis e mantém um pH equilibrado na região da mucosa onde é aplicada, regulando a acidez cutânea; evitando/minimizando a proliferação de flora microbiana/bacteriana indesejável. Ela proporciona também hidratação dos tecidos, auxiliando na sua recuperação.

30 São apresentadas a seguir algumas definições dos termos que são apresentados ao longo do pedido de patente. Higiene pessoal e íntima

Hábitos de limpeza do corpo são essenciais para garantir a saúde de todo o organismo contra os estímulos externos, como a proliferação de microorganismos indesejáveis e causadores de doenças. O conjunto de hábitos de limpeza do corpo caracteriza a higiene pessoal de um indivíduo. A higiene pessoal é fundamental em face da incapacidade de percepção às investidas de seres patogênicos, o que dá à higiene um papel fundamental para o bem-estar corporal. No contexto da presente invenção, a higiene íntima é definida como a utilização de produtos que não agridem as regiões genitais externas de um indivíduo.

A composição da presente invenção proporciona a eliminação ou diminuição da concentração de substâncias que geram odor desagradável, além de inibir o crescimento da flora não saprófita, estimula a flora benéfica e previne a colonização oportunista, sendo, portanto uma composição para higiene pessoal tanto cosmética quanto funcional.

Fragrância

A fragrância é comumente considerada um componente acessório em formulações cosméticas, por não impactar no efeito produzido pela composição. Na presente invenção, entretanto, surpreendentemente a combinação da fragrância com a composição base proporciona o efeito de reduzir a presença de substância geradora de odor desagradável. Tal efeito porém não ocorre com qualquer fragrância. Para que o efeito de redução de odores seja pronunciado, deve-se usar uma combinação específica de composição base e fragrância, resultando em uma composição tal que obedeça os critérios da Tabela 1 :

Tabela 1. Tempo de retenção e intensidade dos sinais da composição contendo a fragrância de composição específica.

Tempo de retenção Intensidade do sinal

(minutos) (abundância)

18.8 Abaixo de 5 x 10 ^e

19.8 Abaixo de 5 x 10 ⁶

19.9 1 x 10 ⁷

A quantificação da redução dos odores pode ser realizada por meio de um experimento que monitore a concentração de uma molécula causadora de mau odor. Um exemplo de uma molécula adequada é o ácido butírico. Um ensaio foi idealizado e conduzido para comparar duas composições, onde a diferença entre elas é a capacidade de reduzir a concentração e substâncias geradoras de odores e a outra sem essa capacidade. A eficiência da composição da presente invenção é comprovada quando a área calculada para o pico da molécula causadora de mau odor é menor do que a área calculada quando do uso de outra composição que não usa a combinação da invenção.

Preferencialmente, quando analisado por cromatografia, a composição da invenção (combinação de composição base com fragrância) deve gerar um cromatograma que obedece os seguintes critérios:

a) possuir picos com intensidade relativa entre 35% a 65% em tempos de retenção de 21 ,2 min; 22,8 min; 26;0 min; 27,4 min; 30,8 min e 32,6 min; e

b) possuir pico com intensidade relativa menor que 10% em tempo de retenção de 28,8 min.

Preferencialmente, a composição compreende de 0,2% a 0,7% em peso de fragrância. ^'

Componente Seletivo para o Crescimento da Flora Saprófita

Para fins da presente invenção entende-se por componente seletivo para o crescimento da flora saprófita um oligossacarídeo. Oligossacarídeos úteis para efeitos da presente invenção incluem, sem se limitar, os sacarídeos de até 10 monômeros, obtidos a partir de açúcares naturais e/ou sintéticos como, por exemplo, através de processo de síntese enzimática envolvendo a enzima transferase.

O alfa-glucano é um oligossacarídeo preferencial da presente invenção, possuindo a seguinte fórmula:

O referido oligossacarídeo se apresenta na forma de um pó de aparência branca e odor leve e característico, sendo solúvel em água, polietileno glicol e glicerol, insolúvel em etanol 50°GL e não miscível com óleos vegetais e/ou minerais. Seu número CAS é 27707-45-5. O oligossacarídeo preferencial da presente invenção é um componente que estimula seletivamente o crescimento da flora saprófita (residente e benéfica) de um indivíduo, em detrimento de uma flora patógena. As ligações alfa1-6 e alfa1-2 de sua estrutura polimérica proporcionam uma hidrólise mais difícil ocasionando uma bioseletividade uma vez que esse substrato restringe o crescimento de uma flora patógena. Assim, em um ambiente de competição, a flora saprófita prevalecerá. O alfa-glucano é um oligossacarídeo que protege o ecossistema da pele e mantendo este ecossistema constante ou balanceando- o de tal forma a revertê-lo ao seu estado prévio ou natural. Atua seletivamente, dispensando o uso de antibióticos para evitar o surgimento de flora indesejável. Preferencialmente, a composição compreende de 0, 1 % a 10% em peso de componente seletivo para o crescimento da flora saprófita.

Componente Hidratante

O componente hidratante da presente invenção é um componente capaz de agir aumentando a hidratação da região de aplicação. Pode agir tanto por impedir que a água presente evapore quanto pela capacidade hidroscópica. Hidratantes úteis para uso na presente invenção incluem, sem limitações, os hidratantes comumente utilizados no estado da técnica de produtos cosméticos. Preferencialmente o componente hidratante é o soro de leite.

Entende-se por soro do leite (whey ou lactosoro) o produto derivado da fração hidromineral do leite. Sua principal função na composição é manter o efeito do ácido lático por mais tempo bem como hidratar e manter o equilíbrio hidroelétrolítico da pele, atuando como fator de recuperação dos tecidos. Em uma realização preferencial, o soro de leite utilizado na presente invenção é o soro de leite atomizado (em pó). Preferencialmente, o a composição compreende de 0,1 % a 20%; em peso de componente hidratante.

Regulador de pH

Entende-se por regulador de pH um componente que assegure a acidez cutânea, dificultando a proliferação microbiana, bem como mantenha o pH da superfície da pele em que será aplicado o produto para higiene íntima, Reguladores de pH úteis na presente invenção incluem, sem limitações ácido lático, ácido cítrico, ácido fosfórico, ácido maleico, ácido succínico, e outros ácidos comumente utilizados no estado da técnica. Em uma realização preferencial, o regulador de pH utilizado na presente invenção é o ácido lático (ou ácido 2-hidroxipropanóico). Preferencialmente, a composição compreende de 0,1% a 20% em peso de regulador de pH.

Os exemplos a seguir mostrados têm o intuito somente de exemplificar algumas das inúmeras maneiras de se realizar a invenção, não devendo, contudo, limitar o escopo da mesma. Em uma concretização preferencial da invenção, uma composição para higiene íntima foi preparada e seus efeitos vantajosos testados.

Exemplo 1

A tabela 2 ilustra uma concretização preferencial de composição da invenção.

Tabela 2 - Fórmula quali-quantitativa de uma composição preferencial da invenção.

A Figura 1 ilustra a comparação da detecção de substâncias geradoras deodores em duas composições, uma contendo a combinação base+fragrância outra contendo apenas a composição base. Pode-se ver que a composição da invenção, que resulta da combinação composição base+fragrância (indicada pela letra A), proporciona a redução da concentração de substâncias formadoras de odores, enquanto a composição B, que não apresenta a combinação da invenção, não tem desempenho satisfatório.

Os dados da figura 1 mostram a diminuição da concentração do ácido butírico (RT 2,4 minutos) quando do uso de uma composição que combina uma composição base e uma fragrância. Observa uma evidente diferença na área do ácido butírico quando comparada à área resultante do uso de uma composição diferente, aproximadamente 5 vezes mais. Este resultado demonstra que a composição da presente invenção em conjunto com a fragrância, é capaz de capturar as moléculas de ácido butírico, o que reflete na redução do mau odor.

Exemplo 2

Além de proporcionar a redução da concentração de substâncias geradoras de mau odor, a composição da invenção proporciona adicionalmente outras vantagens, como: manter úm pH equilibrado na região da mucosa onde é aplicada, regulando a acidez cutânea; evita/minimiza a proliferação de flora microbiana/bacteriana indesejável; e proporciona hidratação.

Eficácia de Alfa-glucano oligossacarídeo

Quando utilizado na composição, o alfa glucano oligossacarídeo favorece o crescimento da flora saprófita em detrimento da patogênica, pois as ligações glicosídicas (a1-6) e (a1-2) são mais difíceis de serem hidrolisadas pela flora patogênica. Em estudo para investigar a metabolização do alfa glucano oligossacarídeo pelas cepas microbianas da pele e mucosa vaginal, foi realizada a comparação do uso de alfa glucano oligossacarídeo e glicose como fonte de carbono. Os resultados encontram-se nas tabelas abaixo. Tabela 3: Classificação utilizada para os escores.

Tabela 4: Resultados da utilização de alfa glucano oligossacarídeo e glicose pela flora saprófita como fonte de carbono.

Tabela 5: Resultados da utilização de alfa glucano oligossacarídeo e glicose pela flora patogênica como fonte de carbono.

Tabela 6: Resultados da utilização de alfa glucano oligossacarídeo e glicose pela flora saprófita não estabelecida como fonte de carbono.

Flora Saprófita não estabelecida alfa glucano Glicose referência oligossacarídeo

Propionibacterium granulosum -

Staphylococcus warneri + ++

Staphylococcus simulans + -

Staphylococcus xylosus + - Portanto, verificou-se que o alfa glucano oligossacarídeo é uma fonte de carbono para a maioria de microorganismos da flora saprófita testados, não sendo para os microorganismos patogênicos testados. Dessa forma, o alfa glucano oligossacarídeo proporciona fonte seletiva de carbono para o crescimento da flora desejável, atua indiretamente como inibidor de crescimento dessas bactérias indesejáveis.

Adicionalmente, realizou-se um teste para investigar o potencial inibitório do alfa glucano oligossacarídeo por competição, analisando o crescimento de uma combinação de bactérias saprófitas e patogênicas ou indesejáveis. As bactérias foram inoculadas em meio de cultura (triptona USP) contendo 0,5% de alfa glucano oligossacarídeo. Após 24h de crescimento, foi realizada a contagem das bactérias. Foram utilizados os métodos de PCA, Chapman e BHI para, respectivamente, flora total, Staphylococcus aureus e Corynebacterium xerosis. Em um primeiro combinado de cultura, inoculou-se Staphylococcus aureus e Micrococcus kristinae a uma concentração de 10 ⁶ células/ml. Foi observado o desenvolvimento biosseletivo do Micrococcus kristinae em detrimento do Staphylococcus aureus. Os resultados se encontram na tabela abaixo.

Tabela 7: Crescimento de Staphylococcus aureus e Micrococcus kristinae.

Em um segundo combinado de cultura, inoculou-se Micrococcus kristinae e Corynebacterium xerosis a uma concentração de 10 ⁵ células/ml. Tabela 8: Tempo de inoculação das bactérias relacionado ao desenvolvimento. Inoculação de 10 ⁵ células/ml.

Tempo de inoculação TO 6h 24h

Corynebacterium xerosis 1 ,0 x 10 ^b 1 ,0 x 10 ⁴ 1 ,0 x 10*

Micrococcus kristinae 1 ,0 x 10 ^b 5,0 x 10 ⁴ 1 ,0 x 10' Tabela 9: Tempo de inoculação das bactérias relacionado ao desenvolvimento. Inoculação de 10 ⁶ células/ml.

Os dados indicam que o alfa glucano oligossacarídeo promove preferencialmente o crescimento do Micrococcus kristinae em detrimento do Corynebacterium xerosis. Essa inibição competitiva ocorre devido a uma assimilação biosseletiva do alfa glucano oligossacarídeo pelo Micrococcus kristinae. Portanto, há uma metabolização mais rápida e benéfica do alfa glucano oligossacarídeo pela flora saprófita, favorecendo seu crescimento em detrimento dos patógenos, inibindo a colonização oportunista.

Os versados na arte valorizarão os conhecimentos aqui apresentados e poderão reproduzir a invenção nas modalidades apresentadas e em outros variantes, abrangidos no escopo das reivindicações anexas.