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Title:
PROCESS FOR PRODUCING PECTIN AND XYLOOLIGOSACCHARIDES FROM ORANGE JUICE INDUSTRIAL WASTE, AND XYLOOLIGOSACCHARIDES
Document Type and Number:
WIPO Patent Application WO/2024/082045
Kind Code:
A1
Abstract:
The present invention relates to an integrated process for producing pectin and xylooligosaccharides from orange peel waste. The optimized extraction process using citric acid for producing pectin has been adapted for orange peel waste. This optimization yields a more xylane-rich solid waste that is suitable for use for the enzymatic production of xylooligosaccharides. In addition, considerable quantities of xylooligosaccharides are also produced during the pectin extraction process, which can be recovered and purified from the liquid fraction of the pectin extraction. Further, the xylooligosaccharides produced are characterized by their prebiotic and antioxidant capacity, and are suitable for application in the food and/or pharmaceutical industry.

Inventors:
GOLDBECK ROSANA (BR)
MARTINS MANOELA (BR)
Application Number:
PCT/BR2023/050354
Publication Date:
April 25, 2024
Filing Date:
October 16, 2023
Export Citation:
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Assignee:
UNICAMP (BR)
International Classes:
C12P19/14; C08B37/06; C08B37/14; C12N9/24
Attorney, Agent or Firm:
SANTOS, Elisama Campelo (BR)
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Claims:
REIVINDICAÇÕES

1. Processo de produção de pectina e xilo- oligossacarideos a partir de resíduo industrial de suco de laranja, caracterizado pelo fato de que compreende as etapas de :

I. Caracterização química;

II. Extração de pectina;

III. Extração de xilana;

IV. Hidrólise enzimática; e,

V. Quantificação de xilo-oligossacarídeos .

2. Processo, de acordo com a reivindicação 1 caracterizado pelo fato de que na etapa (I) de caracterização química o material é lavado duas vezes a 40°C durante lh com agitação para remoção de açúcares livres remanescentes da polpa, após as lavagens, o material é seco em estufa a 50°C e triturado a partículas 60Mesh ou menores.

3. Processo, de acordo com a reivindicação 2 caracterizado pelo fato de que na caracterização química são analisados os teores selecionados dentre: celulose, hemicelulose, lignina e cinzas, em que 300 mg foram hidrolisados com 0,3mL ácido sulfúrico 72% a 30°C por lh, diluídas até 4% (p/v) adicionando 84mL de água destilada e autoclavada a 121 °C por lh, arrefecida e filtrada em cadinho de fundo poroso 4-5pm.

4. Processo, de acordo com a reivindicação 2 ou 3 caracterizado pelo fato de que a lignina insolúvel é quantificada como quantidade de sólido insolúvel, obtido a partir da massa de cinzas insolúveis e a lignina solúvel é medida em meio alcalino a 280nm; em que o teor de cinzas é determinado pela queima de lg de amostra durante 6h a 600°C até peso constante.

5. Processo, de acordo com a reivindicação 2 caracterizado pelo fato de que a caraterização da pectina ocorre pelo método colorimétrico utilizando o reagente m- hidroxidif enil e padrão de ácido galacturônico mono hidratado, em que Iml de amostra, ou Img em Iml de água, é adicionado em béquer de 20ml contendo 5mL de solução 0.0125M tetraborato de sódio em ácido sulfúrico, a solução posteriormente é aquecida a 80°C por 6 minutos e esfriada em gelo até temperatura ambiente, 0,lmL de solução 0,15% m- hidroxidif enil em 0,5% NaOH é adicionado e homogeneizado em vórtex; em seguida é feita leitura a 520nm.

6. Processo, de acordo com a reivindicação 1 caracterizado pelo fato de que na etapa (II) de extração de pectina 2g de casca lavada e triturada são adicionados a 80ml de solução de ácido citrico 2% com pH 2.2, o delineamento central composto rotacional (DCCR) avaliou as condições de temperatura e tempo de extração na faixa de 70 a 130°C e 1 a 70 minutos, em que após a extração as amostras são centrifugadas a 9000g e 4°C por 10 minutos e filtradas a vácuo, ao filtrado, adiciona-se 80mL de etanol, e mantem-se as amostras a 4°C por 12 horas para precipitação da pectina, em seguida a pectina é recuperada por centrifugação e seca em estufa.

7. Processo, de acordo com a reivindicação 6 caracterizado pelo fato de que é utilizada a proporção 1:40 m/v no DCCR para otimização das condições de extração de pectina e recuperação do residue sólido.

8. Processo, de acordo com a reivindicação 6 caracterizado pelo fato de que a etapa (II) de extração da pectina obtém à 100°C durante 70min:

- 58,5% de resíduo sólido rico em xilana;

- 81,2% de pureza da pectina extraída; e

- 0, 7g/L XOS .

9. Processo, de acordo com a reivindicação 1 caracterizado pelo fato de que na etapa (III) de extração de xilana o resíduo sólido da extração de pectina com maior teor de hemicelulose é lavado com água destilada para remoção do excesso de ácido cítrico e 2g adicionados a solução de KOH com concentrações variando de 2,5% a 24%, em que as extrações são avaliadas variando a temperatura na faixa de 30°C a 120°C e o tempo de 30 minutos a 12 horas; após a extração, o pH é ajustado com ácido acético até atingir o ponto isoelétrico da xilana extraída pH 5,5, etanol gelado é adicionado na proporção de 10 vezes o volume de ácido acético adicionado, as amostras são mantidas a 4°C por 12 horas, centrifugadas, e os sólidos recuperados são lavados com solução 50% etanol, centrifugados novamente e secos em estufa .

10. Processo, de acordo com a reivindicação 9 caracterizado pelo fato de que a etapa (III) de extração da xilana obtém em 2,5% de KOH, 120°C, 30min e 1 volume etanol:

- 69% de pureza de oligômeros de xilose.

11. Processo, de acordo com a reivindicação 1 caracterizado pelo fato de que na etapa (IV) de hidrólise enzimática as condições ótimas de Endo-p-1 , 4-xilanase são determinadas por DCCR e a curva de saturação enzimática é realizada nas condições ótimas de 50°C e pH 5, em que a concentração de saturação da Endo-p-1 , 4-xilanase é utilizada para as hidrólises enzimáticas da xilana extraída, variando a concentração de sólidos de 1 a 5%.

12. Processo, de acordo com a reivindicação 11 caracterizado pelo fato de que após 48h, as amostras são aquecidas a 98°C para desativação da enzima, centrifugadas para remoção dos sólidos não hidrolisados e reservadas para quantificação de xilo-oligossacarideos .

13. Processo, de acordo com a reivindicação 11 ou 12 caracterizado pelo fato de que são utilizados 1% (v/v) de enzima diluida 1:50, com concentração final de proteína 0,165mg/mL e a hidrólise é conduzida a 50°C, pH 5, 48h.

14. Processo, de acordo com qualquer uma das reivindicações 11 a 13 caracterizado pelo fato de que a enzima Endo-p-1 , 4-xilanase comercial preferencial é a Shearzyme NS50030.

15. Processo, de acordo com qualquer uma das reivindicações 11 a 14 caracterizado pelo fato de que a etapa (IV) de hidrólise enzimática da xilana extraida obtém:

- 9,16g/L XOS; (2% de sólidos, 48h, 50°C) ; e,

- 6,7g/L Xilotetraose .

16. Processo, de acordo com qualquer uma das reivindicações 11 a 15 caracterizado pelo fato de que na etapa (IV) de hidrólise enzimática 72, 68% de xilana são convertidos em XOS utilizando concentração de sólidos de 2%.

17. Processo, de acordo com qualquer uma das reivindicações 11 a 16 caracterizado pelo fato de que O produto de hidrólise apresentou 0,32g/L de monossacarideos .

18. Processo, de acordo com a reivindicação 17 caracterizado pelo fato de que o principal oligossacarideo obtido é xilotetraose, correspondendo a 74% dos XOS produzidos .

19. Xilo-oligossacarideos , produzido de acordo com a reivindicação 1, caracterizado por ser pré-biótico e antioxidante .

Description:
PROCESSO DE PRODUÇÃO DE PECTINA E XILO-OLIGOSSACARÍDEOS A PARTIR DE RESÍDUO INDUSTRIAL DE SUCO DE LARANJA E XILO-OLIGOSSACARÍDEOS

CAMPO DA INVENÇÃO

[ 1 ] A presente invenção refere-se a um processo integrado para produção de pectina e xilo-oligossacarideos a partir de residue de casca de laranj a . Os xilo- oligossacarideos produzidos se destacam pela sua capacidade pré-biótica e antioxidante e , ainda, são passíveis de serem aplicados na indústria de alimentos e/ou farmacêutica .

[ 2 ] A presente invenção se insere no campo da engenharia de alimentos , mais precisamente na área de biotecnologia .

FUNDAMENTOS DA INVENÇÃO

[ 3 ] Cascas de frutas citricas representam um dos residues mais subaproveitados do setor industrial . Após a extração do suco das frutas , o res idue de casca pode atingir mais de 50% do peso úmido da fruta . Cascas de laranj a são constituídas por 20% de matéria seca ( açúcar, celulose , hemicelulose , pectina e D-limoneno ) e 80% de água . O reaproveitamento deste residue tem sido focado principalmente na extração de D-limoneno e , em menor proporção , pectina . Tradicionalmente , estas cascas são secas e os compostos de interesse são extraídos com ácidos , e uma pequena porção de casca seca é aproveitada na alimentação animal . Entretanto , a maior parte deste material é descartada de forma inadequada no solo devido aos custos de secagem e uso de ácidos , gerando séria poluição orgânica por conta da elevada demanda de oxigênio biológico para sua decomposição (Balu et al . , 2012 ; Orti z-Sanchez et al . , 2021 ) . [ 4 ] Uma alternativa para se contornar o problema é o reaproveitamento das frações de pectina e lignocelulose . A pectina pode compor até 50% do peso seco deste residue , e em torno de 5% de xilana . Este teor mais baixo de xilana presente na casca de laranj a pode ser compensado pelo alto volume de residue gerado todos os anos nas indústrias de sucos . Além disso , ao se extrair a fração de pectina, o residue sólido remanescente pode conter até 50% do peso seco de xilana, tornando este residue sólido da extração de pectina uma fonte abundante para produção enzimática de xilo- oligossacarideos (XOS ) .

[ 5 ] Xilo-oligossacarideos são fibras alimentares parcialmente digeridas por humanos . As porções não digeridas servem de alimento para as bactérias intestinais , atuando como prebióticos , estimulando o crescimento e a atividade de bactérias benéficas do intestino , aumentando a produção de ácidos graxos voláteis antiulcerogênicos , inibindo o crescimento de bactérias nocivas e retardando a absorção de carboidratos no trato gastrointestinal , sendo relatado um efeito benéfico no diabetes mellitus tipo 2 . Os benefícios proporcionados aos sistemas digestivo e imunológico levam a potencial aplicação em alimentos funcionais . Uma vantagem do XOS é a possibilidade de produção a partir de residues agroindustriais por hidrólise de xilana .

[ 6 ] A produção industrial de pectina é custosa devido a grande quantidade de água, etanol e energia ( elétrica, vapor e refrigeração ) . A produção industrial de XOS também é um desafio devido aos custos relacionados com o uso de enzimas e álcalis (KOH ou NaOH) durante a etapa de pré-tratamento . Apesar disso , a indústria de alimentos demanda uma alta produção de pectina, devido ao seu uso como agente espessante em diversos produtos como geleias, iogurtes e manufatura de bioembalagens , e de XOS para a produção de alimentos funcionais (Amorim et al . , 2019; Tsouko et al . , 2020) . A literatura reporta o aproveitamento de cascas de laranja para a produção de óleo essencial, pectina, biogás e XOS (Ortiz-Sanchez et al . , 2021; Praveen et al . , 2017; Teigiserova et al . , 2022; Tsouko et al . , 2020) .

[7] Entretanto, informações relacionadas às combinações economicamente viáveis que possibilitem o aproveitamento simultâneo de várias frações deste residue são escassas, especialmente relacionadas à produção de XOS. O desenvolvimento de um processo integrado dentro do conceito de uma biorefinaria deve acessar a eficiência energética e de custos por meio da otimização das etapas sequenciais do processo, visando reduzir tempo e consumo de água e reagentes, mantendo a integridade do material residual de uma etapa para ser utilizado na etapa seguinte.

[8] Desta forma, devido à otimização dos métodos utilizados para a extração de pectina, extração de xilana e hidrólise enzimática de xilana, o principal diferencial da presente invenção é o rendimento em xilo-oligossacarideos e a pureza de pectina obtida.

[9] A presente invenção otimizou o método de extração com ácido citrico já aplicado na indústria para a produção de pectina, adaptando-o para o residue de casca de laranja. Esta otimização também rendeu um residue sólido mais rico em xilana passível de ser utilizado para produção enzimática de xilo-oligossacarideos. Além disso, durante o processo de extração de pectina, também foram produzidas quantidades consideráveis de xilo-oligossacarideos, que podem ser recuperados e purificados da fração liquida da extração de pectina.

[10] Alguns documentos do estado da técnica descrevem processos para produção de pectina e xilo-oligossacarideos, adicionalmente, alguns dos processos ocorrem a partir de resíduos de casca de laranja, tais como:

[11] O documento cientifico intitulado "VALUE ADDITION OF ORANGE FRUIT WASTES IN THE ENZYMATIC PRODUCTION OF XYLOOLIGOSACCHARIDES" refere-se ao uso de biomassa de laranja no processo de preparo de xilo-oligossacarideos (XOS) . Adicionalmente, são reveladas as mesmas condições de processo e o uso de enzimas endo-xilanases comerciais.

[12] Todavia, a presente proposta aproveita a fração de pectina para a produção de uma xilana mais pura, enquanto o documento utiliza o residue integral de casca de laranja para a extração de xilana e produção de XOS. Além disso, o referido documento analisa a produção de XOS para um curto tempo (6h) , o que não representa um rendimento industrial. O presente processo otimiza as condições coerentes com uma aplicação industrial, a maior pureza da xilana extraída rende mais de 9g/L XOS. Além disso, XOS foram liberados durante o processo de extração de pectina, no total, produziu-se aproximadamente 10g/L de XOS. Foi utilizada uma menor concentração de etanol e álcali, 2,5% hidróxido de potássio (KOH) , apresentando menor impacto ambiental e garante uma maior recuperação da xilana extraída de casca de laranja, por outro lado o referido documento utiliza hidróxido de sódio (NaOH) , ao invés de KOH, que não é o melhor álcali para extrair xilana de casca e bagaço de laranja (uma vez que cada biomassa requer um tratamento diferente) .

[13] 0 referido documento cientifico não deixa claro como foi realizado o planejamento experimental, não foi construída uma superfície resposta estatisticamente significativa para ser considerada uma otimização do processo. A melhor condição apresentada pelo documento produziu 0, 630g/L de XOS . Ainda, não foi apresentada a caracterização quimica do material utilizado e a pureza obtida para a xilana extraída, a fim de se calcular o balanço de massa e eficiência do processo. É apresentada uma curva de calibração de xilose, mas o documento não deixa claro qual a concentração de enzima (massa de proteína) e a concentração de substrato (xilana extraída) foi utilizada para os ensaios de hidrólise.

[14] O documento cientifico intitulado "PRODUÇÃO DE XILO-OLIGOSSACARÍ DEOS POR HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE XILANAS" refere-se o uso de enzimas comerciais, como a Shearzyme , para avaliar a atividade de endo-p-xilanases . Ainda, o referido documento revela que endo-p-1 , 4-xilanases foram utilizadas na hidrólise da xilana em xilo-oligossacarideos . O estudo aponta que endo-p-xilanases da Shearzyme tem um baixo valor de Km e é capaz de hidrolisar de forma mais eficiente a xilana.

[15] Contudo, o referido documento analisa a cinética de produção de XOS a partir de substratos comerciais, variando-se pH e temperatura. A caracterização e os parâmetros cinéticos das enzimas comerciais foram determinados utilizando xilana de faia (substrato comercial, não um residue agroindustrial) , não sendo utilizada a casca de laranja. O melhor rendimento em XOS foi obtido com xilana extraída de casca de arroz, 5, 67 g/L XOS .

[16] No referido documento, o método 2 para extração de xilana utiliza maior concentração de álcali e maiores tempos (12h a 60°C + 3h a 100°C) . Para a acidif icação, foi utilizado ácido clorídrico (HC1) , que reage com NaOH e precipita grande quantidade de cloreto de sódio (NaCl) , o que pode inibir a atividade enzimática, exige etapas adicionais de lavagem de xilana para a remoção do excesso de sal, além de ser mais caro ($0,l/kg) . Já o método 1 não apresenta potencial para aplicação industrial. Não fica clara a pureza da xilana extraída. Não fica claro o volume de enzima adicionado às reações.

[17] Ressalta-se que a presente proposta utiliza um resíduo agroindustrial abundante e de custo baixo. A quantidade de enzima usada é a menor concentração necessária para atingir a saturação enzimática. 0 método de extração de xilana requer menores tempo e concentração de álcali, e utiliza ácido acético na acidif icação, apresentando baixa toxicidade e menor impacto ambiental, não forma NaCl e é mais barato ($0, 045/kg) . Na presente invenção apresenta ainda quantidades de XOS obtidas são superiores ao do documento, além de haver o duplo aproveitamento do resíduo, para produção de pectina e XOS.

[18] 0 documento científico intitulado "PRODUÇÃO DE XILOOLIGOSSACARÍ DEOS A PARTIR DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓS ICOS E FUNGOS FILAMENTOSOS" refere-se ao uso de resíduos de materiais lignocelulósicos para obtenção de xilo- oligossacarideos como ingredientes prebióticos . Ainda, descreve sobre a hidrólise enzimática e o uso de p-1,4- endoxilanase no processo. [19] No referido documento é aplicada fermentação em estado sólido utilizando casca de arroz como substrato na primeira etapa e posteriormente é aplicada a enzima produzida em uma etapa de hidrólise. Não há extração da xilana, o substrato é usado sem pré-tratamento . A maior concentração de XOS atingida foi 75 mg/g de substrato.

[20] Em relação ao referido documento, quando se trata da produção de oligossacarideos , um dos pontos mais custosos é o downstream para purificação. Na fermentação em estado sólido, o substrato é adicionado ao meio de crescimento do fungo, que secreta diversas enzimas e pigmentos. Ao final do processo, não apenas XOS, mas diversos outros açúcares estarão presentes no meio, além de proteínas do fungo. Em relação à etapa de hidrólise realizada com a enzima produzida por A. brasílíensís, pela análise da composição de XOS ao longo do tempo de hidrólise, a maior produção de XOS aconteceu nas primeiras 3h. A partir deste ponto, houve intensa queda na quantidade de oligossacarideos e produção de xilose, indicativo de atividade de p- xilosidases .

[21] Por outro lado, a presente invenção realiza a etapa de hidrólise enzimática separadamente ao processo de produção da enzima e utilizando um substrato pré-tratado, o que resulta em uma hidrólise mais eficiente, com pouca ou nenhuma presença de contaminantes , sem pigmentos e com alta concentração de XOS. Não há necessidade de uma etapa de purificação, uma vez que o hidrolisado, por ser apenas concentrado por evaporação gera um produto com mais de 80% de pureza em oligossacarideos prebióticos. Ainda, a etapa de pré-tratamento reduz a recalcitrância do material e aumenta a eficiência de hidrólise e facilita a etapa downstream. A maior concentração de XOS atingida por 255 mg/g de substrato.

[22] 0 documento cientifico intitulado "OBTAINING XYLO-OLIGOSACCHARIDES FROM SUGARCANE STRAW USING RECOMBINANT ENDOXYLANASE" refere-se, particularmente, aos xilo- oligossacarideos como uma das classes de prebióticos que pode ser obtida a partir da biomassa lignocelulósica, pela reação de hidrólise dos resíduos agroindustriais .

[23] No referido documento a xilana de cana é extraida com borohidreto de sódio e 24% KOH, ocorre a aplicação de endoxilanase recombinante produzida por Píchía pastoris e a hidrólise é realizada a 1% de sólidos, 65°C. 0 uso de borohidreto de sódio eleva custos de produção e de tratamento dos resíduos. É um produto de uso controlado e tóxico e 24% KOH é uma concentração de álcali elevada que pode inviabilizar economicamente o processo. 0 documento possui as condições de hidrólise ainda não otimizadas e baixa variedade dos XOS produzidos.

[24] Em contrapartida, na presente invenção foi eliminado o uso de borohidreto de sódio, pois o material é pobre em lignina, e reduziu-se o tempo de reação e concentração de álcali para a extração da xilana. As condições de hidrólise foram otimizadas e o melhor resultado foi utilizando a concentração de substrato 2%. 0 material lignocelulósico é mais bem aproveitado, para produção de açúcar f ermentescivel , pectina e XOS.

[25] 0 documento cientifico intitulado "ESTUDO CINÉTICO ENZIMÁTICO DA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE LARANJA" refere-se a hidrólise enzimática (com enzima comercial xilanase da Novozymes) do bagaço de laranja para obtenção de bioprodutos e destaca 0 resíduo do processamento de frutos cítricos possui alto valor agregado devido à sua composição . Esse subproduto é de grande interesse industrial apresentando grande potencial para ser utili zado na obtenção de uma gama produtos através da hidrólise enzimática .

[ 26 ] 0 foco do referido documento é a produção de açúcares f ermentescíveis a partir da hidrólise total de resíduo cítrico , empregando concentrados enzimáticos com diversas atividades ( arabinase, pectidase , xilanase , celulase e glucanase ) . Foram gerados 7 , 34 g/L de açúcares ( concentração medida indireta de absorbância ) . A falta de pré-tratamento da biomassa afeta a eficiência da hidrólise devido à recalcitrância e presença de lignina, diminuindo a quantidade de material acessível às enzimas . Não há discriminação do tipo de açúcar f ermentescível produzido (pentose ou hexose ) , o que impacta a potencial aplicação industrial . 0 produto obtido é de baixo valor agregado no mercado . Ainda, reitera-se que determinar a concentração de açúcar redutor por DNS pode gerar erros de superestimativa pois oligômeros ( também presentes no hidrolisado , uma vez que a degradação não foi completa ) apresentam maior intensidade de absorbância do que monômeros , causando uma medição acima da real .

[ 27 ] A presente proposta aproveita o resíduo cítrico para gerar dois produtos com alto valor agregado nas indústrias de alimentos : pectina e XOS , e como subproduto gera-se açúcar f ermentescível naturalmente presente no material . As etapas de lavagem da casca, extração de pectina com ácido cítrico e extração de xilana com KOH permitem melhor aproveitamento das frações e aumentam a eficiência de hidrólise . Gerou-se 9 g/L XOS ( quanti ficados por HPLC ) , além do aproveitamento da fração de pectina com alto teor de pureza e da produção de açúcar f ermentescivel durante a etapa de lavagem da casca de laranj a ( 24g por 100g de casca ) .

[ 28 ] 0 documento cienti fico intitulado "STRUCTURAL CONS IDERATIONS ON THE USE OF ENDO-XYLANASES FOR THE PRODUCTION OF PREBIOTIC XYLOOLIGOSACCHARIDES FROM BIOMASS" refere-se ao interesse em xi lo-oligossacarideos como prebióticos . Adicionalmente , é discutido que xilo- oligossacarideos podem ser obtidos a partir de grandes frações de biomassa, incluindo subprodutos agrícolas . 0 documento conclui que endoxilanases são enzimas chave e de alto valor para a produção de xilo-oligossacarideos a partir de xilana .

[ 29 ] 0 referido documento é um artigo de revisão que não apresenta resultados de experimentos próprios . 0 documento analisa a estrutura e a função de endoxilanases para a produção de XOS . Não há dados de aplicação , teor de pureza de xilana, concentração de sólidos , balanço de massa e carga enzimática, além de dados de concentração de XOS obtidos após a hidrólise dos residues agroindustriais mencionados . Não há análise das condições de hidrólise e extração de xilana .

[ 30 ] Por outro lado , a presente proposta otimi zou o processo de extração de xilana e etapa de hidrólise enzimática especi ficamente para o aproveitamento da fração hemicelulósica de residue de casca de laranj a, além da fração de pectina e açúcar f ermentescivel . Foram apresentados os devidos dados e balanços de massa para permitir o desenvolvimento de uma análise técnico-económica do processo .

[31] 0 documento cientifico intitulado "SYNERGIC RECOMBINANT ENZYME ASSOCIATION TO OPTIMIZE XYLOOLIGOSACCHARIDES PRODUCTION FROM AGRICULTURAL WASTE" refere- se a hidrólise enzimática da xilana da palha da cana-de- açúcar utilizando endoxilanase para produção de XOS com alta atividade prebiótica como uma possível forma sustentável de reduzir custos enzimáticos e de matéria-prima.

[32] 0 documento descreve uma análise de sinergia de duas enzimas, endoxilanase recombinante e arabinofuranosidase comercial, para otimizar a produção de XOS a partir de hemicelulose de palha de cana. A xilana é extraída com 24% KOH e borohidreto de sódio devido à elevada quantidade de lignina no material (20%) .

[33] A presente invenção, por sua vez, descreve que apenas a enzima endoxilanase é necessária para a produção de XOS a partir de casca de laranja uma vez que a fração hemicelulósica deste residue não é constituída por arabinoxilana, ao contrário da palha de cana, e sim xilana.

[34] A extração de xilana foi otimizada para reduzir a quantidade de KOH utilizado, e não houve o uso de borohidreto de sódio, visto que o teor de lignina da biomassa é baixo (~1%) , não havendo necessidade de potencializar a extração da lignina no processo. Além disso, há a valorização de duas frações do residue agroindustrial: pectina e XOS.

[35] O documento cientifico intitulado "ENDO- XYLANASES AS TOOLS FOR PRODUCTION OF SUBSTITUTED XYLOOLIGOSACCHARIDES WITH PREBIOTIC PROPERTIES" refere-se às endoxilanases . É descrito que as enzimas são capazes de clivar a cadeia de xilana em locais de clivagem determinados pelo padrão de substituição e , assim, produzem di ferentes padrões de produtos de oligossacarideos . Ainda, o referido documento apresenta que a capacidade dos xilo- oligossacarideos da dieta de funcionar como prebióticos em humanos é governada por seus padrões de substituição . As endoxilanases são , portanto , excelentes ferramentas para adaptar os oligossacarideos prebióticos para estimular vários tipos de bactérias intestinais e causar fermentação em di ferentes partes do trato gastrointestinal .

[ 36 ] 0 referido documento é um artigo de revisão de que não apresenta resultados de experimentos próprios . 0 documento analisa a estrutura e a função de endoxilanases para a produção de XOS . Não há dados de rendimento , teor de pureza de xilana, concentração de sólidos e carga enzimática, além de dados de concentração de XOS obtidos após a hidrólise de hemicelulose . A presente proposta, por outro lado , otimiza o processo de extração de xilana e etapa de hidrólise enzimática especi ficamente para o aproveitamento da fração hemicelulósica de residue de casca de laranj a, além de também haver o aproveitamento da fração de pectina . Foram apresentados os devidos dados e balanços de massa para permitir o desenvolvimento de uma análise técnico-económica do processo

[ 37 ] 0 documento cienti fico intitulado "METHOD FOR SEPARATING LIGNIN AND PRODUCING XYLOOLIGOSACCHARIDE FROM LIGNOCELLULOSE ALKALINE OXIDATION PRETREATMENT LIQUID" refere-se um método que utili za lignocelulose para obtenção de xilo-oligossacarideos com hidrólise de xilanases .

[ 38 ] 0 referido documento solubili za a fração hemicelulósica com peróxido de hidrogênio e conta com duas etapas de neutrali zação e hidról ise para produzir XOS . A concentração de XOS obtida é em torno de ~35% . Peróxido de hidrogênio pode não ser a melhor escolha de álcali dependendo da biomassa aproveitada . Neste caso , a xilana de casca de laranj a é mais bem extraída com KOH ao invés de H2O2 . São necessárias duas etapas de neutrali zação ( acidi f icação ) e hidrólise enzimática para a produção de XOS .

[ 39 ] Na presente invenção , é descrito que a biomassa utili zada é pobre em lignina, não havendo necessidade para sua remoção . Pode-se aproveitar a fração de pectina e xilana para gerar dois produtos de alto valor agregado . A eficiência de conversão de xilana em XOS foi maior que 70% . Além disso , há o potencial aproveitamento da fração de celulose remanescente da extração de xilana e dos açúcares f ermentesciveis separados na etapa de lavagem das cascas de laranj a .

[ 40 ] Os documentos cientí ficos , em conj unto , podem revelar um processo para produção de xilo-oligossacarideos a partir de residue de casca de laranj a e que utili za a enzima endoxilanase em reação de hidrólise enzimática, porém di ferem da presente proposta em relação às frações aproveitadas e pré-tratamento . A presente invenção descreve um processo com condições viáveis para aplicação industrial , considerando o uso de reagentes (principalmente KOH, etanol e enzima ) . Assim, o presente processo caracteri zou as frações de pectina extraída e residue sólido para alcançar a condição de melhor recuperação da xilana e aumentar o rendimento . I sso permitiu elevar a pureza da extração de pectina e a conservação da xilana presente no residue sólido . É o processo integrado da presente proposta que rende a elevada produção de XOS , a pureza de pectina, além dos açúcares f ermentesciveis . 0 uso da enzima endoxilanase para a hidrólise enzimática foi deduzido após a caracteri zação do residue sólido da extração de pectina, que indicou a presente de aproximadamente 30% de hemicelulose , o dobro do teor inicialmente presente na biomassa .

[ 41 ] Alguns dos documentos embasam o uso de resíduos agroindustriais para obtenção de xilo-oligossacarideos a partir da hidrólise enzimática empregando p- 1 , 4-endoxilanase para obter XOS , mas di ferem da presente proposta pelo pré- tratamento utili zado para a biomassa . A casca de laranj a apresenta baixo teor de lignina, não sendo necessária grande quantidade de álcali (KOH ou NaOH) e dispensa o uso de borohidreto de sódio para a quebra das ligações éster e remoção da lignina . O uso de KOH se mostrou a melhor opção para a recuperação da xilana de casca de laranj a e foi possivel reduzir a sua concentração para 2 , 5% , reduzindo também o volume de ácido para a neutrali zação (menor custos e descarte de substâncias quimicas ) . O uso de HC1 não é uma alternativa devido à grande quantidade de sal precipitado em conj unto com a xilana extraída, além de ser mais caro que o ácido acético . O sal gerado eleva os custos com as lavagens do material ( desperdício de água e perda de sólidos ) e pode resultar em redução da atividade enzimática na etapa de hidrólise .

[ 42 ] Além disso , o volume de etanol para a precipitação da xilana foi avaliado no presente processo para evitar a precipitação de outras frações de hemicelulose que reduziriam a pureza da xilana extraída, como arabinana e manana . Vale ressaltar que a hidrólise enzimática utili zando endoxilanase não é o único caminho para a produção de XOS . Existem outras metodologias como tratamentos hidrotérmicos e explosão a vapor para a produção de XOS , a depender da biomassa e da estratégia de trabalho . Por isso a caracteri zação da biomassa e de cada fração do processo é importante para a avaliação da viabilidade . A presente proposta aproveita todas as correntes do processo , desde a lavagem para a remoção de açúcares f ermentesciveis , até a extração de pectina e xilana com alto grau de pureza e produção de XOS com baixo teor de xilose .

[ 43 ] Os documentos concluem que endoxilanases são enzimas chave e de alto valor para a produção de xilo oligossacarideos a partir de xi lana, mas essa afirmação depende do tipo de hemicelulose trabalhada . Hemicelulose de grãos é constituída por arabinoxilana, por exemplo , e apenas a endoxilanase não garante bom rendimento em XOS . No caso da casca de laranj a, a fração hemicelulósica é composta por xilana, assim a endoxilanase é suficiente para degradar o material em XOS . Mas esta conclusão advém da caracteri zação quimica do material e do ensaio de saturação e cinética enzimática para se determinar a menor concentração de enzima necessária para este processo em especi fico .

[ 44 ] Além disso , a produção de XOS a partir de casca de laranj a só se mostrou viável após a eficiente extração da pectina, uma vez que a concentração de hemicelulose na casca de laranj a in natura é baixa . A grande quantidade de pectina atrapalha a extração da xilana e deve ser previamente extraida com ácido citrico para aumentar a disponibilidade de xilana . 0 eficiente pré-tratamento da xilana, com redução do uso de KOH e etanol , resulta em um hidrolisado mais limpo e rico em XOS , reduzindo custos na etapa downstream de puri ficação .

[ 45 ] Sendo assim, percebe-se que a produção de XOS a partir de casca de laranj a j á foi documentada no estado da técnica, contudo nenhum dos documentos é capaz de avaliar a extração dos açúcares f ermentesciveis e a pectina para aumentar a disponibilidade da fração hemicelulósica e garantir melhor rendimento na hidrólise enzimática . A concentração de xilana no material in natura é baixa e seria inviável a produção de XOS a partir deste residue em escala industrial sem estas prévias etapas de remoção de açúcar e pectina . Devido a isso , a presente proposta alcançou mais de 9g/L de XOS após a hidrólise de xilana, valor signi ficativamente maior que os demais documentos apontados . As otimi zações das etapas prévias garantem um hidrolisado limpo e livre de compostos inibidores , contribuindo para a redução dos custos com as etapas de puri ficação dos produtos .

[ 46 ] 0 uso de endoxilanase para a produção de XOS j á é de dominio do estado da técnica, mas os volumes e as misturas sinérgicas dependem do material utili zado . É necessária a caracteri zação da fração hemicelulósica e a avaliação das condições de precipitação para garantir um substrato enzimático com maior pureza e menos contaminantes . A presente proposta reduziu a concentração de KOH para a extração de xilana devido à baixa concentração de lignina no material e facilidade de solubili zação de hemicelulose presente no residue sólido . 0 volume de etanol utili zado para precipitar a xilana também foi reduzido para elevar a pureza do material e garantir melhor eficiência de conversão . A presente proposta, além de apresentar alto rendimento em XOS, reduziu o consumo de KOH, etanol e enzima.

[47] Nenhum dos documentos apontados caracterizaram ou aproveitaram todas as frações que a casca de laranja apresenta para avaliar a viabilidade do processo. A presente proposta busca a redução do uso de reagentes e a otimização das etapas de extração e hidrólise para aproveitar a biomassa de casca de laranja como um todo.

[48] Apontadas as diferenças e a relevância da presente proposta em relação ao estado da técnica, percebe- se que a presente proposta é um processo otimizado para o aproveitamento integral do residue de casca de laranja, o qual pode se tornar poluição orgânica caso não seja devidamente processado. As etapas de processamento eficientemente geram três produtos principais: açúcar f ermentescivel e celulose, com potencial aplicação na indústria energética; pectina para aplicação em indústrias de alimentos; e XOS, prebiótico com aplicações tanto nas indústrias de alimentos quanto farmacêuticas.

BREVE DESCRIÇÃO DA INVENÇÃO

[49] A presente invenção refere-se a um processo integrado para produção de pectina e xilo-oligossacarideos a partir de residue de casca de laranja. Os xilos oligossacarideos produzidos se destacam pela sua capacidade prebiótica e antioxidante e, ainda, são passíveis de serem aplicados na indústria de alimentos e/ou farmacêutica.

[50] A presente invenção otimizou o método de extração com ácido citrico já aplicado na indústria para a produção de pectina, adaptando-o para o residue de casca de laranja. Esta otimização também rende um residue sólido mais rico em xilana passivel de ser utilizada para produção enzimática de xilo-oligossacarideos . Além disso, durante o processo de extração de pectina, também foram produzidas quantidades consideráveis de xilo-oligossacarideos, que podem ser recuperados e purificados da fração liquida da extração de pectina. 0 residue sólido desta extração foi então aproveitado para a extração da xilana. As condições de extração alcalina para possibilitar uma xilana mais pura para a hidrólise enzimática também foram otimizadas, com significativa redução na concentração de KOH e etanol. A hidrólise enzimática da xilana foi otimizada para a produção de xilo-oligossacarideos, avaliando a concentração de substrato e enzima utilizadas no processo.

[51] A presente invenção, além de produzir pectina com mais de 80% de pureza e 0,7 g/L de xilo-oligossacarideos no processo de extração de pectina, também rendeu mais de 9g/L de xilo-oligossacarideos após 48h de hidrólise de xilana a 50°C e 2% de sólidos, valor que representa mais de 70% de conversão da xilana em xilo-oligossacarideos.

BREVE DESCRIÇÃO DAS FIGURAS

[52] Para obter uma total e completa visualização do objetivo desta invenção, são apresentadas as Figuras as quais se faz referências, conforme segue.

[53] A Figura 1 ilustra graficamente o rendimento de extração (barra cinza escura) e pureza da pectina extraída (barra cinza clara) utilizando as proporções 1:20, 1:40 e 1:50 m/v .

[54] A Figura 2 ilustra graficamente a superfície resposta de massa de pectina extraída (A) e recuperação da pectina presente originalmente na biomassa (B) , R 2 > 90%.

[55] A Figura 3 apresenta um fluxograma ilustrando o balanço de massa do processo de extração de pectina e produção de XOS a partir de resíduo de casca de laranja.

[56] A Figura 4 ilustra graficamente a superfície resposta das condições ótimas determinadas para o coquetel Shearzyme .

[57] A Figura 5 ilustra graficamente a curva de saturação enzimática para o coquetel Shearzyme diluído 1:50.

[58] A Figura 6 ilustra, através de um fluxograma, as etapas apresentadas pelo processo integrado para produção de pectina e xilo-oligossacarídeos .

DESCRIÇÃO DETALHADA DA INVENÇÃO

[59] A presente invenção refere-se a um processo integrado para produção de pectina e xilo-oligossacarídeos a partir de resíduo de casca de laranja. Os xilos oligossacarídeos produzidos se destacam pela sua capacidade prebiótica e antioxidante e, ainda, são passíveis de serem aplicados na indústria de alimentos e/ou farmacêutica.

[60] O processo integrado, compreende as seguintes etapas conforme apresentadas pelo fluxograma da Figura 6:

I. Caracterização química;

II. Extração de pectina;

III. Extração de xilana;

IV. Hidrólise enzimática; e,

V. Quantificação de xilo-oligossacarídeos.

[61] Sendo assim, para demonstrar o potencial do referido processo, a presente invenção será mais detalhadamente descrita sob aspecto das etapas realizadas e os seus respectivos parâmetros.

Caracterização química

[62] Na primeira etapa O material foi lavado duas vezes a 40°C durante lh com agitação para remoção de açúcares livres remanescentes da polpa. Após as lavagens, o material foi seco em estufa a 50°C e triturado a partículas 60Mesh ou menores .

[63] A caracterização quimica analisou o teor de celulose, hemicelulose, lignina e cinzas: 300 mg foram hidrolisados com ácido sulfúrico 72 % (0,3mL) a 30 °C por 1 h, diluidas até 4% (p/v) adicionando 84mL de água destilada e autoclavada a 121 °C por 1 h, arrefecida e filtrada em cadinho de fundo poroso (4-5pm) . A lignina insolúvel foi quantificada como quantidade de sólido insolúvel, obtido a partir da massa de cinzas insolúveis. A lignina solúvel foi medida em meio alcalino a 280nm. O teor de cinzas foi determinado pela queima de 1 g de amostra durante 6 h a 600 °C até peso constante.

[64] A caraterização de pectina seguiu o método colorimétrico utilizando o reagente m-hidroxidif enil e padrão de ácido galacturônico mono hidratado. 1 ml de amostra (ou 1 mg em Iml de água) foi adicionado em béquer de 20ml contendo 5mL de solução 0.0125M tetraborato de sódio em ácido sulfúrico. A solução foi aquecida a 80°C por 6 minutos e esfriada em gelo até temperatura ambiente. 0. ImL de solução 0,15% m-hidroxidif enil em 0,5% NaOH foi adicionado, homogeneizado em vórtex. A leitura foi feita a 520nm, aguardando o maior valor de absorbância.

Extração de pectina

[65] Na segunda etapa do processo, 2g de casca lavada e triturada foram adicionados a 80ml de solução de ácido citrico 2% (pH 2.2) . Um delineamento central composto rotacional (DCCR) avaliou as condições de temperatura e tempo de extração, de 70 a 130°C e 1 a 70 minutos. Após extração, as amostras foram centrifugadas a 9000g e 4°C por 10 minutos e filtradas a vácuo. Ao filtrado, adicionou-se 80mL de etanol, e as amostras foram mantidas a 4°C por 12 horas para precipitação da pectina. Após este periodo, a pectina foi recuperada por centrifugação e seca em estufa. Os sobrenadantes das extrações foram reservados para análise da concentração de xilo-oligossacarideos obtidos. 0 residue sólido da extração de pectina de cada ponto do DCCR foi caracterizado quanto ao teor de celulose e hemicelulose .

Extração de xilana

[66] Na terceira etapa do processo, o residue sólido da extração de pectina com maior teor de hemicelulose foi lavado com água destilada para remoção do excesso de ácido citrico e 2g adicionados a solução de KOH com concentrações variando de 2,5% a 24%. As extrações foram avaliadas variando também a temperatura de 30°C a 120°C, e o tempo de 30 minutos a 12 horas. Após extração, o pH foi ajustado com ácido acético até atingir o ponto isoelétrico da xilana extraída (pH ~5,5) . Etanol gelado foi adicionado na proporção de 10x o volume de ácido acético adicionado. As amostras foram mantidas a 4°C por 12 horas, centrifugadas, e os sólidos recuperados foram lavados com solução 50% etanol, centrifugados novamente e secos em estufa.

Hidrólise enzimática

[67] Na quarta etapa do processo, as condições ótimas de Endo-p-1 , 4-xilanase comercial (Shearzyme, NS50030 Novozymes) foram previamente determinadas por DCCR, avaliando temperatura e pH. A curva de saturação enzimática foi realizada nas condições ótimas determinadas de 50°C e pH 5. A concentração de saturação da enzima foi utilizada para as hidrólises enzimáticas da xilana extraída, variando a concentração de sólidos de 1 a 5%. Após 48h, as amostras foram aquecidas a 98°C para desativação da enzima, centrifugadas para remoção dos sólidos não hidrolisados e reservadas para quantificação de xilo-oligossacarideos . A Figura 4 apresenta as condições enzimáticas ótimas e a Figura 5 a curva de saturação enzimática previamente determinada para 50°C e pH 5.

[68] Desta forma, foram utilizados 1% (v/v) de enzima Shearzyme diluida 1:50 (concentração final de proteína 0,165mg/mL) . Hidrólise conduzida a 50°C, pH 5, 48h.

Quantificação de xilo-oligossacarideos

[69] A quinta etapa descreve que a quantificação dos sobrenadantes resultantes da hidrólise foi feita por cromatograf ia de troca iônica com detecção amperométrica pulsada (HPLC-PAD) , utilizando o cromatógrafo Dionex® (Sunnyvale, CA, Estados Unidos) equipado com coluna Carbopac PA-1 (4 x 250 mm) e coluna de proteção Carbopac PA-1 (4x50 mm) , bomba GP50, detector eletroquimico ED40 e detector de indice de refração gradiente A (NaOH lOOmM) e B (NaOAc 300 mM, NaOH lOOmM) , software PEAKNET, Áreas de pico integradas serão ajustadas com padrões Megazyme® xilobiose (X2) , xilotriose (X3) , xilotetraose (X4) , xilopentaose (X5) , xilohexaose (X6) .

[70] A seguir a presente invenção descreve os resultados obtidos

Resultados obtidos pela presente invenção

[71] Como resultados obtidos pelo processo empregado na presente invenção tem-se por etapa: i. Extração de pectina:

- 58,5% de resíduo sólido rico em xilana; e,

- 81,2% de pureza da pectina extraída (100°C 70min) ; e 0,7 g/L XOS . ii. Extração de xilana:

- 69% de pureza (oligômeros de xilose) (2,5% KOH, 120°C, 30min, 1 volume etanol) . ill. Hidrólise enzimática da xilana extraída:

- 9g/L XOS; (2% de sólidos, 48h, 50°C) ; e,

- 6,7g/L Xilotetraose .

[72] Para demonstrar o seu potencial a presente invenção também será mais detalhadamente descrita sob aspecto dos exemplos concretizados. Cabe ressaltar que a descrição a seguir tem apenas a finalidade de elucidar o entendimento da invenção proposta e revelar, de forma mais detalhada, a concretização da invenção sem limitá-la ao mesmo. Dessa forma, variáveis similares ao exemplo também estão dentro do escopo da invenção.

Exemplos de Concretização

Lavagem e caracterização química

[73] O resíduo de casca de laranja oriundo de indústria de suco de laranja foi fornecido por Vita Citrus (Ribeirão Preto, SP) . A primeira etapa deste processo consistiu na lavagem na casca de laranja oriunda de indústria de suco de laranja com água morna para remoção de açúcares da polpa. O material foi lavado duas vezes a 40°C durante lh com agitação para remoção de açúcares livres remanescentes da polpa, utilizando uma concentração de sólidos de 50 g/L. Após as lavagens, o material foi seco em estufa a 50°C e triturado a partículas 60Mesh ou menores. [74] A Tabela 1 apresenta a composição centesimal do residue de casca de laranja utilizado neste trabalho, assim como dos subsequentes resíduos e produtos de cada etapa.

Tabela 1: Composição centesimal de residue de casca de laranja e sólidos das extrações de pectina e xilana, valores com erro padrão de 5%

Extração de pectina

[75] 0 material lavado e seco foi utilizado para extração da pectina. Os pontos principais desta etapa são a pureza da pectina extraida e a integridade do residue sólido remanescente, utilizado na hidrólise enzimática para produção dos xilo-oligossacarideos . Além disso, produtos de degradação (furfural, HMF e ácido fórmico) , monossacarideos e xilo-oligossacarideos também foram quantificados e avaliados. A extração de pectina pode ser realizada com diversos ácidos como sulfúrico, clorídrico, nitrico e tartárico. No entanto, a extração de pectina com ácido citrico melhora a economia do processo e apresenta baixo impacto ambiental. Para as extrações, empregou-se solução de ácido citrico 2% (pH 2,2) .

[76] Inicialmente foram avaliados os rendimentos e as purezas da pectina extraída utilizando diferentes proporções de sólido e liquido para a extração, 1:20, 1:40 e 1:50 m/v (Figura 1) a 100°C durante 30 minutos. Embora a proporção 1:50 tenha apresentado maior rendimento de extração devido à menor viscosidade da solução, e não tenha havido diferença estatisticamente significativa em relação à pureza do material extraído, utilizar proporções mais altas de solventes pode levar a custos de processamento mais altos e auto-hidrólise da pectina devido à diluição excessiva.

[77] Desta forma, empregou-se a proporção 1:40 m/v no delineamento central composto rotacional (DCCR) para otimização das condições de extração de pectina e recuperação do residue sólido: 2g de biomassa foram adicionados a 80 mL de solução de ácido citrico 2% (pH 2,2) . O DCCR avaliou as condições de temperatura e tempo de extração, de 70 a 130°C e 1 a 70 minutos. Após extração, as amostras foram centrifugadas a 9000g e 4°C por 10 minutos e filtradas a vácuo. Ao filtrado, adicionou-se 80mL de etanol, e as amostras foram mantidas a 4°C por 12 horas para precipitação da pectina. Após este periodo, a pectina foi recuperada por centrifugação e seca em estufa. Os sobrenadantes das extrações foram reservados para análise da concentração de xilo-oligossacarideos obtidos. O residue sólido da extração de pectina de cada ponto do DCCR foi caracterizado quanto ao teor de celulose e hemicelulose . Tabela 2 : Resultados do DCCR de extração de pectina

Tabela 3: Resultados do DCCR de extração de pectina: oligossacarideos , monossacarideos e produtos de degradação (continuação da Tabela 2) . [78] A condição para extração de pectina que proveu melhor grau de pureza e menor degradação do material foi obtida a 100°C e 70 minutos (ensaio 8) . A pureza da pectina nesta condição foi de 81%. A caracterização detalhada desta pectina está apresentada na Tabela 1. Também foram produzidos ~0,7 mg/mL de xilo-oligossacarideos (xilobiose e xilotriose) . A segunda melhor condição de extração de pectina foi obtida a 120°C durante 10 e 60 minutos (ensaios 2 e 4) . O material extraído apresentou 58% de pectina e foram produzidos 0,54 mg/mL e 1300 mg/mL de xilo-oligossacarideos, respectivamente. O alto rendimento em xilo-oligossacarideos do ensaio 4 se deve à auto hidrólise ácida da hemicelulose do material, uma conversão de 70,35% da xilana presente na biomassa em XOS . Entretanto, esta produção acompanha inibidores, além de um menor rendimento de extração e pureza de pectina. A Figura 2 apresenta a superfície resposta do DCCR para extração de pectina (p < 0.10) . Não foi possível obter uma superfície resposta com adequado valor de R2 para a pureza da pectina.

Tabela 4: Composição dos xilo-oligossacarideos quantificados nos sobrenadantes da extração de pectina em cada ponto do DCCR.

Extração de xilana

[79] A xilana foi extraida do residue sólido remanescente da extração de pectina (ensaio 8) . As porcentagens de hemicelulose presente nos resíduos sólidos da extração de pectina estão apresentadas na Tabela 2. 0 ensaio 8 rendeu a maior pureza de pectina e o residue sólido com maior concentração de hemicelulose. A xilana foi extraida deste material com 2,5%, 5%, 15% e 24% de KOH, a 120°C por 30 min e proporção de sólidos 1:10. Foram analisados diferentes volumes de etanol adicionado para precipitação da xilana extraida.

[80] Seguindo a metodologia, que recomenda a adição de 10 volumes de etanol para cada volume de ácido acético adicionado para neutralizar o KOH, quanto maior a concentração de KOH, maior a quantidade de etanol adicionada, o que aumenta custos de reagentes. Por exemplo, lOmL 2,5% KOH necessita ImL de ácido acético, já lOmL 24% KOH necessita 5mL de ácido para neutralizar o pH, o que aumenta o volume de etanol de lOmL para 50mL. Percebeu-se que maiores volumes de etanol reduziram a pureza da xilana extraida de 69% (com 2.5% KOH) para 15% (com 24% KOH) . Desta forma fixou-se o volume de etanol para 1 volume reacional . Ou seja, para cada lOmL de solução de KOH e biomassa, seriam adicionados ácido acético em quantidade suficiente para neutralizar a solução e lOmL (mais o volume de ácido) de etanol gelado. Desta forma não foram apresentadas diferenças nas massas extraídas com diferentes concentrações de KOH.

[81] Constatou-se que 2,5% de KOH e 1 volume de etanol rendeu a xilana mais pura, de 69%, levando-se em conta apenas a composição de oligômeros de xilose (os demais 30% são referentes a outros tipos de hemicelulose também extraídas no processo, principalmente arabinanas, além de pequena quantidade de celulose) . Menor concentração de KOH e menor quantidade de etanol para precipitação da xilana resultaram em maior pureza e rendimento de hidrólise. A eficiência de extração deste processo também foi alta, uma vez que o residue da extração de xilana apresentou menos de 8% de hemicelulose e 76% de celulose.

Hidrólise enzimática da Xilana extraída

[82] A hidrólise enzimática para produção de XOS empregou a xilana extraída da etapa 3. O residue sólido da extração de pectina da etapa 2 também foi utilizado para comparação dos rendimentos.

[83] O residue sólido, rico em hemicelulose (Tabela 2, ensaio 8) , rendeu 0.46mg de XOS por mg de xilana (pura) presente no material, utilizando uma concentração de sólidos de 3%. Maiores concentrações de sólido resultaram em inibição enzimática e menos de 0.2mg de XOS por mg de xilana (Tabela 5) .

Tabela 5: Rendimentos da hidrólise de residue sólido de pectina (ensaio 8)

[84] Já a hidrólise de xilana extraida na melhor condição apresentada na etapa 3 (69% de pureza) rendeu 9,16 g/L de XOS, o que representa uma conversão de 72, 68% de xilana em XOS, utilizando concentração de sólidos de 2% (Tabela 6) , comprovando a necessidade da extração de xilana para aumentar a eficiência de conversão e produção de XOS. Maiores concentrações de sólido inibiram a enzima. 0 produto de hidrólise apresentou 0,32g/L de monossacarideos . 0 principal oligossacarideo obtido foi xilotetraose (x4) , o que corresponde a aproximadamente 74% dos XOS produzidos (Tabela 7 ) .

[85] Considerável fração de compostos fenólicos é extraida com a fração de xilana (Tabela 2) . Pode-se afirmar que o hidrolisado é rico em XOS e compostos fenólicos antioxidantes , e que boa parte da atividade antioxidante advém dos xilo-oligossacarideos , uma vez que o produto de hidrólise que apresentou maior concentração de XOS também foi o que apresentou maior atividade antioxidante, não proporcional à quantidade de fenóis totais.

[86] A Figura 3 apresenta o balanço de massa dos processos de extração e produção de XOS. A composição quimica de cada fração está apresentada em suma na Tabela 1. Tabela 6: Hidrólise enzimática de xilana extraida de residue sólido de pectina, quantificação de fenóis totais e atividade antioxidante total (CAT) .

Tabela 7 : Composição dos XOS produzidos

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