[01 ] De uma maneira geral a presente invenção pertence ao setor de avicultura, e se refere, mais especificamente, a um equipamento e método de transferência de aves que tem por finalidade mover, de maneira dinâmica, aves abatidas penduradas pelas juntas das coxas em guias lineares e em fila, para um volante com ganchos, que está em movimento circular.

Estado da técnica

[02] Em 2015, o Brasil ultrapassou a China e se tornou segundo maior produtor mundial de carne de frango, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a produção brasileira chegou a 13,14 milhões de toneladas nesse ano, volume 5,4% superior ao de 2014 e o maior já registrado na história do país. Foram abatidos nada menos do que 5,8 bilhões de cabeças de frango em território nacional.

[03] Apesar de produzir menos frangos do que os Estados Unidos, o país já é há algum tempo a maior força no comércio internacional desse produto. De cada onze quilos exportados globalmente, aproximadamente quatro quilos têm origem no Brasil. O produto nacional é hoje encontrado em 150 países de todos os continentes.

[04] Para tanto, o abate e a industrialização de aves é notoriamente uma das atividades que mais adoece trabalhadores no país. As centenas de milhares de empregados do setor lidam frequentemente com diversos fatores de risco: Exposição constante a facas, serras e outros instrumentos cortantes; Realização de movimentos repetitivos que podem gerar graves lesões e doenças; Pressão psicológica para dar conta do elevado ritmo imposto pelas linhas produção; Jornadas muitas vezes ultrapassando o limite diário estabelecido por lei; Ambiente fechado, asfixiante e muito frio.

[05] Em abril de 2013 foram aprovadas novas regras para melhorar as condições de trabalho em frigoríficos e abatedouros do país. Resultado da pressão de diversas entidades para reduzir os riscos de saúde relacionados ao setor, a Norma Regulamentadora NR-36 estabeleceu diversas novas diretrizes para o funcionamento de indústrias frigoríficas. Destacam-se: A concessão de pausas distribuídas ao longo da jornada para o descanso muscular dos trabalhadores; Adequações ergonômicas e de segurança nas esteiras e demais maquinário das fábricas; Normas para diminuir a exposição dos trabalhadores a ambientes excessivamente frios, bem como para amenizar o desconforto térmico; Adequação dos postos de trabalho para que, sempre que possível, o trabalho sentado seja feito em alternância com o trabalho em pé.

[06] A produção de frangos ganhou, nas últimas décadas, cada vez mais relevância no cardápio de produtos do agronegócio brasileiro. Trata-se de um setor que, em 15 anos, dobrou seu volume de produção, quadruplicou as exportações e ganhou peso crescente na balança comercial - o frango in natura foi o quarto produto mais exportado pelo Brasil em 2015.

[07] No entanto, diversos elos da cadeia produtiva avícola ainda não garantem aos trabalhadores condições suficientemente dignas e seguras de emprego e renda. A situação dos avicultores integrados, dos apanhadores de frango e dos trabalhadores da indústria mostra essa realidade, e exemplifica como os frutos do crescimento do setor são distribuídos de forma bastante heterogênea.

[08] Para enfrentar esse cenário de desigualdade na cadeia produtiva do frango, as reivindicações de avicultores e trabalhadores precisam ganhar a agenda das políticas corporativas e governamentais para o setor. Com isso, abre-se uma lacuna para o desenvolvimento de equipamentos e máquinas para contribuir com os trabalhadores do setor e as empresas do setor de produção de aves.

[09] Transferidores de nórea são dispositivos comuns e amplamente utilizados em abatedores de aves. As empresas que fabricam este dispositivo transferem as aves que estão penduradas manualmente, em ganchos suspensos por trole, para volantes em movimento circular. Cada empresa tem sua maneira de fazer a transferência. O presente equipamento é alimentado com aves que estão penduradas em guias lineares (não em troles como citado) e o sistema de transferência consiste basicamente em um conjunto de carnes que dosam as aves de uma a uma para cada gancho de um volante com movimento circular. Basicamente, o sistema de carnes é o que dá a inovação ao equipamento pois não conhece-se nenhum sistema de pendura que possua esse tipo de mecanismo para a transferência.

[010] Tem-se algumas soluções para os problemas constantes como o documento BR 102018003938-5 - “EQUIPAMENTO PENDURADOR DE FRANGO INTEIRO RESFRIADO”, que revela um equipamento para coletar, posicionar e transportar frangos, o qual é formado por uma centrifuga separadora, destinada a alinhar o posicionamento dos frangos, com sensor que verifica, confirma, rejeita ou libera a saída dos frangos na posição correta para esteira de condução para ser pendurado no sistema de pendura e encaminhado para o sistema de acumulação dotada de um duplo guia de acumulação interligado ao duplo helicoide de separação e duplo helicoide de dosagem de transpasse para os guias de condução, que giram pela roda transferidora lateralmente alinhada ao transferidor com ganchos aéreos nória, mantendo os frangos pendurado pelas coxas com o peito voltado para o lado desejado.

[01 1 ] O documento PI 0608515-6 - “MÉTODO E DISPOSITIVO PARA PROCESSAR PARTES DE CARCAÇA DE AVE DOMÉSTICA ABATIDA” demonstra um invento para processamento de partes de carcaça de aves domésticas abatidas, uma parte de carcaça que compreende no mínimo parte de um corpo e no mínimo parte de uma asa, que compreende osso, cápsula na vizinhança da junta de cotovelo e carne que está naturalmente presente. A invenção faz uso de um dispositivo transportador que tem pelo menos um portador e um trajeto de transportador, sendo o portador deslocável em uma direção de transporte ao longo do trajeto de transportador e projetado para carregar uma parte de carcaça. É também feita utilização de uma estação de processamento de asa colocada ao longo do trajeto de transportador. Com a ajuda do dispositivo transportador uma parte de carcaça é alimentada para a estação de processamento de asa, cuja parte de carcaça é processada na estação de processamento de asa, enquanto a parte de carcaça é carregada pelo portador. Na estação de processamento de asa pelo menos um osso que pertence ao membro superior ou inferior da asa é exposto sobre parte de seu comprimento na vizinhança do cotovelo, resultando na preparação de uma tulipa, enquanto o membro superior da asa está ainda ligado ao corpo.

Novidades e objetivos da invenção

[012] Diante dos problemas do estado da técnica ainda não solucionados, a presente invenção apresenta um equipamento e método para mover aves abatidas tendo como novidade na disposição de transferência, substituindo as aves que antes eram deslocadas de ganchos para um volante, agora tendo apenas guias lineares que transferem as aves para um volante. A outra diferença é o método de transferência, que consiste em arrastar com carnes sincronizados ao volante a perna do frango para o gancho do volante.

[013] Este equipamento será utilizado mais comumente em abatedores de aves após o processo de resfriamento por Chiller. A ave será conduzida em um guia linear pela junta da coxa e será transferido automaticamente para um dos ganchos de um volante com movimento circular.

Descrição dos desenhos anexos

[014] A fim de que a presente invenção seja plenamente compreendida e levada à prática por qualquer técnico deste setor tecnológico, será descrita de forma clara, concisa e suficiente, tendo como base os desenhos anexos, que a ilustram e subsidiam abaixo listados:

Figura 1 representa a vista perspectiva posterior do equipamento de transferência de aves;

Figura 2 representa a vista perspectiva posterior do equipamento de transferência de aves, com enfoque na parte superior;

Figura 3 representa a vista perspectiva anterior do equipamento de transferência de aves, com enfoque na parte superior;

Figura 4 representa a vista perspectiva anterior do equipamento de transferência de aves, com enfoque na parte superior; Figura 5 representa a vista em perspectiva anterior do equipamento de transferência de aves inserido na linha de produção;

Figura 6 representa a vista em perspectiva posterior do equipamento de transferência de aves inserido na linha de produção;

Figura 7 representa a vista em perspectiva posterior do equipamento de transferência de aves inserido na linha de produção;

Figura 8 representa a vista em perspectiva posterior do equipamento de transferência de aves inserido na linha de produção;

Figura 9 representa a vista perspectiva posterior do equipamento de transferência de aves com destaque aos detalhes A e B;

Figura 10 representa a vista em perspectiva dos guias lineares;

Figura 11 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 1 ;

Figura 12 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 2;

Figura 13 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 3;

Figura 14 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 4;

Figura 15 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 5;

Figura 16 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 6;

Figura 17 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 7;

Figura 18 representa o volante com ganchos e os eixos dos carnes em movimentos sincronizados, na etapa 8;

Figura 19 representa as juntas das pernas da ave encaixadas nos vãos do gancho;

Figura 20 representa a ave pendurada no guia linear;

Figura 21 representa o carne superior retendo a ave; Figura 22 representa a transferência sendo iniciada com a junta da coxa da ave entrando no sulco do carne superior;

Figura 23 representa a transferência sendo iniciada com a junta da coxa da ave entrando no sulco do carne superior, com a chapa de fixação dos guias lineares suprimida;

Figura 24 representa a ave apoiada no guia linear;

Figura 25 representa as tíbias da ave para dentro do gancho;

Figura 26 representa as juntas da ave escapando dos guias lineares, finalizando a transferência.

Descrição detalhada da invenção

[015] Conforme as Figuras 1 a 8, o equipamento (70) que pode ser inserido em linhas de produção, compreende uma estrutura metálica que comporta um sistema de transmissão (701 ) com motoredutor (702), volante com ganchos (71 ), dois carnes superiores (72), dois carnes inferiores (73) e guias lineares (75).

[016] Em sua modalidade preferencial, o sistema de transmissão (701 ) é dotado de motoredutor (702) acoplado a polia motora que é justaposta a uma correia e ligada ao conjunto de engrenagens e é acoplado diretamente no volante com ganchos (71 ). O sistema de transmissão (701 ) além de transferir potência para os eixos dos carnes (74) tem a função de ampliar sua velocidade angular. O eixo dos carnes (74) tem rotação inversa à rotação do volante (71 ), por isso, no sistema de transmissão (701 ) é instalado um conjunto de engrenagens para realizar esta reversão de sentido. A taxa de ampliação de velocidade é proporcional ao número de ganchos do volante (71 1 ). Por exemplo, se um volante (71 ) tiver 15 ganchos (71 1 ), a transmissão terá uma relação de 15:1 , logo, se a velocidade de trabalho do volante (71 ) for 10 rpm a velocidade dos eixos dos carnes (74) será 150 rpm.

[017] Os carnes (72) (73) sincronizam as pernas das aves aos vãos dos ganchos do volante (711 ). O carne superior (72) tem por função reter e dosar as aves e o carne inferior (73) tem a função de empurrar a tíbia (canela) da ave para dentro do gancho do volante (711 ). O volante com ganchos (71 ) tem a função de acumular as aves penduradas. É possível dispor de melhor entendimento por meio da Figura 23.

[018] Os guias lineares (75) são afixados a chapa de fixação (76) sustentada pela estrutura, e recebem a ave que vem de processo anterior (pendura manual ou automática). Existem algumas particularidades para auxiliar o desempenho dos guias lineares.

[019] Os guias (75) em barras redondas devem ter uma inclinação de 25° a 35°, mas preferencialmente 30°, para que a ave ganhe velocidade com o deslizamento e facilite a chegada no sistema de carnes (72) (73). Outra particularidade são as pontas curvas (712) ao final do dispositivo, elas são necessárias pois a transferência das tíbias da ave acompanha o movimento circular dos carnes (72) (73). É possível ter uma melhor interpretação do conjunto analisando a Figura 10.

[020] O volante com ganchos (71 ) e os eixos dos carnes (74) tem movimento sincronizado, é possível perceber este movimento, em um ciclo completo em 8 etapas, das Figuras 1 1 a 18. O movimento sincronizado acontece pois o mecanismo de transmissão é dimensionado para manter este posicionamento.

[021 ] O conceito principal do equipamento é fazer com que as juntas das pernas da ave se encaixem nos vãos do gancho (711 ) conforme a Figura 19. Na primeira etapa é preciso que a ave esteja pendurada no guia linear (75), esta pendura pode ser manual ou automática, a ave também pode ser pendurada com seu dorso para frente ou para trás. No guia linear (75) a ave tem liberdade para se movimentar no sentido longitudinal deste dispositivo e deve ser conduzida até o final do guia linear (75) de deslizamento, como demonstrado na Figura 20.

[022] Após chegar ao final do guia linear (75), o carne superior (72) retém a ave até o momento exato da sua transferência para o gancho (71 1 ). Essa retenção acontece pelo contato da superfície circular externa do carne (72) com a junta da coxa da ave, como ilustrado pela Figura 21 .

[023] Na Figura 22 é demonstrado o momento que a transferência é iniciada quando a junta das coxas da ave entram, cada uma, no sulco do carne superior (721 ) e neste mesmo instante, e de maneira sincronizada, os carnes inferiores arrastadores (73), que estão posicionados abaixo das juntas das coxas da ave empurrarão as tíbias (osso mais comumente conhecido como “canela”) da ave. Para melhor compreensão foi suprimida a chapa de fixação dos guias lineares (76), sendo representada na Figura 23.

[024] No último instante antes da transferência é possível observar que a junta da ave está levemente apoiada no guia linear (75), conforme a Figura 24. Também é possível notar que o carne inferior (73), como tem seu movimento sincronizado ao do volante (71 ), conduziu perfeitamente as tíbias da ave para dentro do gancho (71 1 ), como mostrado na Figura 25.

[025] O final da transferência se dá quando as juntas escapam dos guias lineares (75) e, por ação da gravidade, a ave cai e as juntas se encaixam no gancho (71 1 ), concluindo a transferência/pendura no volante, como ilustrado pela Figura 26.

[026] É importante salientar que as figuras e descrição realizadas não possuem o condão de limitar as formas de execução do conceito inventivo ora proposto, mas sim de ilustrar e tornar compreensíveis as inovações conceituais reveladas nesta solução. Desse modo, as descrições e imagens devem ser interpretadas de forma ilustrativa e não limitativa, podendo existir outras formas equivalentes ou análogas de implementação do conceito inventivo ora revelado e que não fujam do espectro de proteção delineado na solução proposta.